terça-feira, 30 de novembro de 2010

Entrevista: Mauricio Soares

Entrevista com Maurício Soares, diretor executivo da Sony Music Brasil para o mercado Gospel.


1. Mauricio, fale um pouco sobre sua trajetória no mercado fonográfico até sua chegada na Sony Music neste ano.

Comecei a trabalhar no mercado religioso há 21 anos junto à área editorial onde atuei no marketing da Vinde Comunicações, editora que publicava os livros do Rev. Caio Fábio.  Ali foi uma grande escola e já muito jovem tive oportunidade de lidar com grandes líderes, eventos e projetos. Depois fui convidado a trabalhar numa editora secular e nesta experiência desenvolvi mais o meu lado de relacionamento e comercial. Na seqüência recebi um novo convite da MK Publicitá para iniciar um projeto editorial e a área de marketing da empresa. A partir daí não saí mais do mercado fonográfico.

Depois de um bom tempo nesta empresa, optei por ter uma experiência de trabalhar e morar em São Paulo. Fiquei pouco mais de 4 anos morando e aprendendo muito naquela cidade e ali fui contratado para reerguer a Line Records que passava por uma crise bem grande. Na Line Records tive uma enorme experiência de gestão comercial e de marketing. Nesta empresa fiquei quase 6 anos e cheguei ao posto semelhante à vice-presidência de marketing, comercial e artístico. Depois de um bom tempo e o sucesso na empreitada assumi o desafio de trabalhar no ministério Toque no Altar.

O que no primeiro momento seria um tempo de tranqüilidade numa estrutura menor, tornou-se um dos meus maiores desafios, pois vivi todo o processo de cisão do ministério em apenas 10 dias de trabalho. Esta experiência foi a mais marcante para mim em termos profissionais e espirituais. Vivi e entendi intensamente o que é verdadeiramente depender do cuidado de Deus. Mesmo com todos os problemas, conseguimos refazer o ministério e o primeiro álbum já na nova versão vendeu mais de 200 mil cópias, um verdadeiro milagre!

Minha trajetória prossegue com a passagem pela Graça Music. Esta empresa não figurava entre as principais do mercado gospel nacional. Seu foco era tão somente atender às demandas da própria igreja. O cast artístico era bem reduzido e nada representativo no mercado. Em apenas 20 meses de gestão conseguimos conquistar o respeito do público e do mercado e ainda, aumentar o faturamento em 124%.

Todas estas experiências de conquistas, sucesso e de enfrentamento de grandes desafios me possibilitaram uma visibilidade no mercado e isto, sem dúvida, colaboraram para que a Sony Music me fizesse o convite para mais um desafio, talvez um dos maiores de minha carreira, ou seja, implantar um projeto de música gospel na maior gravadora do país. E pelos primeiros resultados, vejo que Deus continua com sua mão sobre a  minha vida me abençoando bastante!


2. Qual a importância de uma gravadora com o peso da Sony Music abrir uma divisão específica para o Mercado Gospel Nacional? O que isto pode significar para a cena?

O que é sensível neste caso é a maior profissionalização do mercado gospel. Também entendemos que a visibilidade do mercado e dos artistas nas mídias e no mercado fonográfico secular aumentaram significativamente. A Sony Music é a maior gravadora do país com mais de 40% de market share. Nos EUA, a Sony Music é a maior gravadora de música gospel através dos labels Provident, Verity, Integrity Music, entre outros.

Uma das maiores novidades do ingresso da Sony Music no mercado gospel é a abertura do mercado digital de forma integral. Até pouco tempo atrás, mercado digital para as gravadoras era apenas a venda de ringtones ou coisas do gênero. Com a entrada da Sony Music o mercado digital significa ações de marketing com todas as operadoras de telefonia móvel, YouTube, MySpace, grandes projetos especiais, só para citar alguns.

3. Observando o cast da Sony Music no filão, percebo uma variedade bastante estimulante em termos de estilo. Isso foi intencional? Aconteceu de maneira natural ou foi uma tônica no processo dos convites aos contratados?

Se você me perguntasse qual seria o cast antes de começar o projeto na Sony Music, certamente eu teria dito a você nomes que hoje não estão na gravadora e muitos outros que vieram para nosso cast não estavam cogitados inicialmente. A montagem de um cast de qualidade é uma partida de xadrez com muita estratégia e paciência. Cada contratação foi feita sob muita análise e critérios. Eu apenas priorizei trazer nomes relevantes, artistas que têm um nome reconhecido no cenário gospel nacional como Cassiane, Renascer Praise, Resgate, Damares, entre outros.

Também estabelecemos que priorizaríamos a contratação de artistas do segmento pentecostal no primeiro momento e foi isso o que fizemos. Só que também buscamos artistas mais jovens e mesmo a contratação de um nome mais conceitual como Leonardo Gonçalves. Diria que hoje o cast da Sony Music está 80% definido e perto do ideal.

4. Imagino que a assessoria de imprensa seja uma das principais preocupações de uma gravadora na tarefa de solidificar a carreira de um artista. Como é este processo num filão onde parece se valorizar certa despreocupação com imagem em prol de quesitos supostamente ministeriais?

Temos incentivado os artistas a contarem com melhor estrutura de apoio. Esta questão está longe de ser a ideal para mim, mesmo em se tratando de artistas Sony Music. As dicas que escrevo em meu blog pessoal deveriam também ser lidas por nossos artistas, mas percebo que mesmo eles não atendem todas as minhas expectativas do artista e assessoria ideais. No caso da assessoria de imprensa no meio gospel há uma defasagem absurda entre o que é realizado e o que é o ideal. Geralmente os textos são muito mal escritos e há um amadorismo bem considerável. Como um todo, em se tratando de assessoria de imprensa e a própria mídia gospel, acho que ainda estamos muito aquém do mínimo de qualidade. Precisamos melhorar bastante esta situação!

5. Ainda neste tema: O artista Gospel ainda tem receio de se enxergar como artista?

O maior problema desse nosso meio é o discurso. O artista quer ser tratado como pastor ou como alguém num nível espiritual diferenciado. Só que grande parte deles tem atitudes de artista, com um ego elevadíssimo! Digo sempre que os 3 degraus que separam o backstage para o palco ou púlpito fazem uma transformação sobrenatural. Segundos antes de assumir o palco, o artista não atende ninguém no camarim, geralmente está com um semblante distante e a tensão impera o ambiente. Depois de subir ao palco, o artista vira um anjo com palavras de fé, um discurso biblicamente correto, enfim, há uma transformação e tanto! Isso não falo porque ouvi dizer, vivenciei e vivencio isso constantemente! Acho que esta questão precisa ser melhor trabalhada pelos próprios artistas e mesmo pelas lideranças e o público.

6. Percebo por seus comentários no belíssimo site Observatório Cristão e em outras oportunidades que você valoriza a fase de escolha de repertório nas produções. Vou fazer aqui uma pergunta meio arriscada: O que faz de uma canção um single de sucesso?

O refrão é algo importantíssimo para um single. O arranjo também tem uma força imensa. Na verdade, o single é aquela canção que se destaca no repertório e que vai se destacar também no playlist das rádios. Entre tantas canções executadas numa FM, o single tem que ter força para se destacar entre as outras músicas. Neste quesito, qualidade é fundamental!

7. Falando sobre o site Observatório Cristão. Você se considera um formador de opinião ou um crítico? E, na sequência, qual é o papel de sites e blogs como este?

Nem uma coisa, nem outra. Apenas escrevo no blog como um grande exercício de pensamento de dia-a-dia. Para mim é um prazer enorme escrever. Sou formado em Publicidade, mas também em Jornalismo e assim garanto que meus textos serão publicados, afinal também sou o editor-chefe do blog então acabo sendo mais condescendente com meus posts. Sei que pela minha posição atual, acabo sendo um formador de opinião, mas acho que nem sempre sigo a cartilha do “politicamente” correto, então acabo me tornando meio crítico também. Confesso que tenho posições bem determinadas sobre assuntos que gostaria de expor com maior veemência, mas minha posição profissional não me permite esta postura mais acirrada. Quem sabe se quando eu me aposentar poderei exercer com mais tranqüilidade esse lado crítico?

8. Quais são os projetos vindouros da Sony? Podemos esperar alguma ênfase na contratação de novos talentos?

Não deveremos ter muito mais contratações em 2011. Creio que com mais 4 ou 5 contratações fecharemos nosso ciclo de novidades. Sobre novos talentos, acabamos de contratar a Brenda, vencedora do Jovens Talentos do Raul Gil. Também entendo que o Marcus Salles pode ser considerado um novo talento, pois iniciou agora sua carreira solo. Também iremos lançar a Nádia Santolli que é um jovem talento, portanto, temos muito trabalho pela frente.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sony Music promove noite de confraternização com seu cast Gospel

Na última terça-feira aconteceu em São Paulo um evento bastastante aconchegante para midia, lojistas e players prmovido pela divisão responsável pelo mercado Gospel da Sony Music.
Assim que cheguei no local, me veio uma idéia de um balanço muito bem medido entre Simplicidade e Qualidade. Nada de pompa e circunstância, mas recém contratados ajudando a montar o som e o próprio diretor executivo da Sony, Maurício Soares, dividindo-se em supervisor do evento como um todo, MC segundo ele improvisado e recepcionista caloroso dos seus convidados.
Na abertura do evento Maurício deu um balanço destes poucos meses de atuação específica da Sony no filão com números expressivos, são cerca de 35 produtos, 3 discos de ouro, 2 disco de platina, o sucesso absoluto dos "Music Tickets" de Marcelo Aguiar e Michael W. Smith, tudo isso dentro da já gigantesca Sony Music Brasil que detém aproximadamente 40% do market share segundo números apresentados por Maurício.
Logo após esta abertura, uma oração abriu uma rodada de apresentações dos membros do cast da Sony com Além do Véu, Marcus Salles, Leonardo Gonçalves, Marcelo Aguiar e Damares. Também marcaram presença as cantoras Elaine de Jesus e Brenda Santos, a jovem ganhadora do concurso promovido no Programa Raul Gil com disco previsto para o primeiro trimestre de 2011 pela gravadora.
Destaco a força das canções de Marcus Salles que mesmo sem toda a habilidosa mão do produtor Jamba das versões registradas no seu novo disco se seguraram com muita personalidade na voz e violão do pastor/músico. Também impressiona sempre ver a precisão e paixão de Leonardo Gonçalves cantando acapella um Pai Nosso em hebraico e um belo produto congregacional com Além do Véu. A cantora Damares cantou seu single poderosíssimo mostrando que a música pentecostal pode (e deve) ser bem-produzida e receber um tratamento artístico de ponta. Elaine de Jesus deu informações sobre sua chegada à Sony, comentando os planos para os próximos meses e anunciando um video-clipe dirigido por Bruno Fioravanti, que já impressiona na qualidade do trabalho no video de Flores em Vida de Paulo César Baruk e que pude acompanhar trabalhando na capatação de imagens para o clipe do Coral Resgate para a Vida. O jovem diretor está trazendo um padrão de qualidade diferenciado aos video-clipes do mercado Gospel Nacional.
A Sony, com suas dimensões titânicas no mercado, certamente dará ainda mais respeitabilidade ao filão Gospel Nacional que já estava começando a se colocar de maneira mais agressiva como produto cultural da crescente população evangélica do Brasil. Comentou-se até que o produto "playback" eminentemente restrito à realidade do Gospel pode ser lançado por artistas seculares devido ao enorme sucesso observado no ano.
Deixei para o fim dizer que lá também estava a Banda Resgate, certamente um dos grandes destaques do cast da Sony com o lançamento Ainda não é o último - disco que já comentei aqui ter feito muita falta na corrida do Grammy Latino deste ano. O pastor Zé Bruno orou encerrando as apresentações e infelizmente não tocaram nada... Isso teria "feito minha noite" de maneira ainda mais completa. Em seguida, Maurício Soares anunciou que o cast não "sairia correndo", mas ficaria por ali para atender e interagir com os convidados. Como (ao menos pelo que percebi...) era eu o único "blogger" presente, aproveitei e pude conversar com a maioria do elenco e equipe da Sony Music.
Um belo evento!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dia do Músico (desabafar...)

Meu principal assunto aqui é a música e os músicos que as gravam, né. Logo é de se esperar que eu escrevesse algo sobre este dia, né? Pois é...
O problema é o seguinte: nem sabia direito quando era este dia e me pegou de surpresa num dia sem lá muito tempo ou inspiração para escrever. Um dia cheio de coisas para resolver, pepinos para descascar e músicas para ensaiar, letras para rever, versões para começar, agendas para decidir e aulas para dar! - Não dá para garantir um texto de alta qualidade, porque, como músico brasileiro em São Paulo, se não faço 600 coisas ao mesmo tempo, não consigo pagar minhas contas daí meu papo tenso seria com o Banco (que nem ao menos abriria ou manteria minha conta como ela é se meu registro fosse feito com a profissão de músico... Atuo como músico, mas meu registro não é feito como tal...)
O músico brasileiro é um tipo de trabalhor sub-valorizado que perde fácil na concorrência pra quem qer vender imagem e alimentar o mercado que consome obras de qualidade duvidosa...  Nossa "Ordem dos Músicos" é algo assim, surreal, por assim dizer... Nossas tabelas sindicais são as tabelas menos observadas entre muitas classes, e, pra quem como eu, trabalha como músico ligado à Igreja ou à música Cristã temos o "Fator R$ 50,00" onde tudo (TUDO) vale, na cabeça dos "contratantes" a bagatela de 50 mangos...
Ser músico e conseguir sobreviver já é uma grande coisa, mas a verdade é que adoraríamos andar pra frente! Criar e divulgar coisas das quais, de modo geral, tivéssemos orgulho de ter produzido. Aqui, não estou cuspindo em pratos que já comi e nem no que estou comendo, até porque, passei da fase de aceitar fazer qualquer coisa e posso escolher meus trabalhos! Eles (meus trabalhos) só são muitos, porque a remuneração do músico brasileiro é baixa! Essa é a dura, nua e crua verdade da classe... Articulação quase zero! Muito pilantra aventureiro vendendo o ofício a preço de banana sem condição de entregar um bom trabalho, acabando com a condição de gente decente e esforçada trabalhar garantindo entretenimento e arte de qualidade. Vale lembrar também que entretenimento e arte são coisas distintas, sem que nenhuma seja absolutamente superior à outra! Mas a verdade, é que a suspensão destes limites fizeram com que nosso país, o país de Chico Buarque e Elis Regina passasse a discursar em defesa da "arte" de figuras caricatas que aqui me darei o direito de não mencionar...
Não temos muito a comemorar, não, fora a alegria de fazer o que fazemos todos os dias... Tocar, cantar, compor, gravar, arranjar e afins... Fica-nos este excesso de reticências e a pergunta que não cala nunca: Quando artistas serão vistos como profissionais numa terra que já importou tantos de tanta qualidade para o mundo todo?

Aliás, parabéns, colegas...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Silvera - O nosso "caso à parte"...

Confesso que eu mesmo achava o Silvera só um bom cantor e curtia o som do FLG com certa moderação. Via o Silvera fazendo backing-vocals para diversos artistas, especialmente numa época em que o professor de contra-baixo do meu pai tocava com o Fábio Jr., e percebia que era um cara preciso e musical, mas nada me prepararia para o contato que tive com ele num Workshop promovido pela Ebony English no centro de São Paulo este ano. Lá passei o dia inteiro trocando figurinha com uma das cabeças mais informadas da técnica vocal, do neo-soul, da R&B, do Urban Gospel que tanto curto e tantos outros assuntos... No final do evento, ele presenteou a todos os presentes com um exemplar de cada um dos seus discos em carreira solo. Chegando em casa, ouvi o primeiro e achei muito bom! Coisa fina, bem-feito, bem arranjado, bem produzido, bem captado, bem tocado (tudo por ele próprio, aliás...). Ótimo disco! Daí, coloquei o segundo disco na vitrola... Aí, o caldo entornou! Um disco absoloutamente incrível... Com um destaque às cinco primeiras faixas que até hoje são minhas novas favoritas de uma Música Brasileira moderna, que não tem medo de receber influências do mundo inteiro e ainda apimenta tudo com uma brasilidade profunda. O Silvera é nosso caso à parte, porque é o cara que conhece Babyface e Prince muito além dos esteriótipos, e ao que percebemos de seus dois primeiros discos tem tanto Michael Jacson quanto Jackson do Pandeiro na veia.
Quem ouvir "Nos Muros da Cidade" vai atestar o que aqui escrevo.
Silvera está com o lançamento de seu terceiro álbum previsto para os próximos meses, e você pode dar uma conferida em algumas faixas no seu Myspace . Certamente será um belo disco, sendo o primeiro Álbum Gospel de sua carreira solo.
Quem quiser conhecer de perto esse talento e aproveitar pra conhecer um pouco mais de música, recomendo que neste sábado 21/11/2010 apareça no Workshop que a Escola de Arte Cristã promove na Igreja Metodista em Tucuruvi (Rua Ausônia, 310). As vagas são limitadas e estão quase no fim!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Clapton - Um CD com sabor de Novas Velharias

Ano passado por volta dessa época eu estava terminando de ler a auto-biografia do Eric Clapton. Devo um post sobre isso até hoje, mas confesso que não tive o estômago para digerir o livro a ponto de reagir. Clapton é um dos poucos artistas que eu acompanho em nível biográfico devorando tudo o que se refira a sua história e trajetória. Penso que ele seja fundamental pra formação do meu ouvido musical. Quando comecei a estudar violão, "Tears in Heaven" era uma canção que ficava tocando e cantando o dia todo. Achava aquilo denso, mesmo antes de conhecer a história da canção envolvendo a trágica morte de seu filho.
Comprei o novo álbum do Clapton, que na capa só tem uma foto do artista com esta inscrição simples e direta. Tem CD que eu compro assim mesmo no escuro! Não sabia nada de faixa nenhuma e saindo do Shopping já coloquei pra tocar. Sem surpresa nenhuma, cada faixa ia me cativando. Destaque pra sensacional versão meio saloon de "How deep is the ocean" de Irving Berling que sempre gostei muito na voz de muita gente.
O disco tem uma sonoridade muito crua e clara. Uma mixagem daquelas que parece que você está num ensaio da banda e uma masterização sem exageros e muito dinâmica.
Na verdade, tive uma impressão curiosa dirigindo pra casa: parecia que já conhecia o disco. Antecipava as frases, mas sem aquela sensação de "mais do mesmo" e sim de identidade. Como se eu ouvisse algo da infância. Não é um CD Pop. É um disco de blues e ponto, que fecha com uma inusitada interpretação de "Autum Leaves" as jazzy as can be por parte de um arauto do Blues. Arauto inusitado: branco, Inglês e hoje abstêmio, mostrando que a música não padece de bandeiras territoriais, raciais e "atitudeológicas".
Recomendo!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Grammy Latino! Que vença o mais votado...

Esta noite corre a premiação da Música Latina!
Claro que meu foco é a categoria "Melhor Album Cristão em língua Portuguesa", categoria da qual conheço bem todos os discos indicados. Fiz uma escuta rigorosa de todos e confesso o espanto com a qualidade de alguns dos indicados... Alguns são bons, outros são discos de realização técnica muito cuidadosa sem lá muito apuro artístico, outros me parecem figurar na lista por meio de algum encantamento mercadológico do mundo Gospel, uma ausência é sentida profundamente enquanto uma produção em particular se destaca. Quero destacar aqui alguns pontos:
1. Minha primeira grande surpresa foi a omissão do excelente "Ainda não é o último" da Banda Resgate. Considero este disco uma grata surpresa na cena Gospel! Um disco com personalidade e que certamente marca uma página importante na história já bem assentada da Banda Resgate.
2. Outra surpresa, esta um pouco mais grata, foi a indicação do "Multiforme" de Paulo César Baruk. Uma justiça feita a um dos álbuns mais completos e fiéis a seu próprio conceito dos últimos tempos. Penso que haveria um confronto de gigantes caso o "Multiforme" concorrese com o acima citado disco da Banda Resgate. O álbum de Paulo César Baruk é um trabalho completo e maduro como já declarei num post anterior quando do lançamento do trabalho que, mesmo não contando com o esquema de larga distribuição de gigantes como MK e outras gravadoras, é um sucesso de vendas e está projetando a Salluz Productions a um novo patamar no mercado Gospel nacional.
3. Na lista figuram os bons discos de Kleber Lucas, Soraya Moraes e da banda Rosa de Sarom, todos os três com um bom nível técnico de realização e as interpretações características por parte dos artistas, formando um apanhado interessante de novas tendências como no caso da banda Rosa de Sarom e atestando a regularidade das carreiras de Kleber Lucas e da já premiada Soraya Moraes.
4. Não tem sido do meu feitio bombardear os defeitos de produções que não me agradam e gostaria de manter assim o tom dos posts, no entanto, não posso deixar de comentar que os demais álbuns são somente aquele caldo de mercado de consumo que alimenta a massa com o velho "mais do mesmo" sem novidade alguma, processos gastos e repertórios de gosto duvidoso. Como á uma parcela considerável a consumir esta linha de produtos, sei que sou voto vencido e aceito as críticas sobre esta posição da mesma maneira que aceitaria que meu favorito a abocanhar o prêmio da noite perdesse para algum deles. Aqui, como no caso da presidência da República, vence o mais votado e não necessariamente o melhor. Mas afirmo sem medo de errar: se os votantes ESCUTAREM os álbuns, dá "Multiforme" com larga vantagem!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Amor - Fernando César

Esses dias, por indicação de alguns twitteiros e depois da "mestra dos magos vocais" Blacy Gulfier, cheguei ao site oficial do cantor Fernando César:
http://www.fernandocesaroficial.com.br/
Depois daquela explorada básica fui ouvir com calma a faixa disponível para download gratuito "O Amor", com a feliz surpresa de poder escolher entre uma versão em mp3 e outra em .wav, um pouco menos achatada...
Ouvi várias vezes por aquele motivo previsível: guitarras como a da introdução da faixa geralmente já me ganham de saída e não podia deixar isto influenciar a escuta do todo.
Depois de uma avalanche de tenores explorando e gastando os "píncaros" da tessitura masculina em vertiginosos malabarismos vocais, o Fernando parece ser um barítono sem medo de ser feliz e de se aproximar de uma sonoridade mais rock'n'roll. Canta rasgado, aberto e vai até onde se exige de um roqueiro. Na faixa em questão, me lembrou um pouco de Frejat sem execeder na "capitalização" dos graves. Como marca de um vocalista consciente, Fernando tem um bom controle de seu instrumento, dando muita plasticidade à interpretação da canção "O Amor", belamente arranjada pelo Lua Lafaiete.
Recomendo e aguardo mais lançamentos do Fernando.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Thiago Grulha na IMT

Como uma noite pode ser relevante em nossas vidas, certo?
No último sábado tive o prazer de receber em nossa Igreja o cantor/pregador Thiago Grulha para nossa programação de jovens entitulada @Rede. E fomos atropelados por um mover muito especial do nosso Deus. Grande foi a visitação do Pai e o poder da palavra revelada através do nosso amado irmão e amigo.
Fiquei pensando em um turbilhão de coisas enquanto cuidava do som junto com nosso técnico de som Edu, e em meio a minha insistência por perfeição técnica no áudio. A coisa mais fundamental que parecia pular da boca do Grulha direto para nossos corações era a questão do Desafio e como nos portamos diante dele: Retrocedemos ou avançamos? - Qual tem sido o tamaho nossa certeza e confiança em Deus diante dos obstáculos? e será que somos assim tão guerreiros diante das batalhas? Quantos cursos, namoros, amizades, projetos temos começado e deixado no caminho ao primeiro sinal de dificuldade ou quando a primeira exigência de dedicação aparece?
Pensei estas e muitas outras coisas enquanto tentava deixar o som o mais poderoso e aconchegante possível para todos ali e através da palavra do Thiago, saí do culto com uma certeza:
Não importa o tamanho das lutas, eu sei que vai amanhecer!
Valeu Grulha!

sábado, 30 de outubro de 2010

Lançamento do "Santifica-me" - Coral Resgate para a Vida

No dia 23/10 aconteceu o show de lançamento do CD “Santifica-me” do Coral Resgate para a Vida. O Espaço Supernova foi o local escolhido para receber o Coral com sua banda para uma noite de música de Louvor e Adoração ao vivo da melhor qualidade. Quem esteve presente pôde confirmar o carisma, musicalidade e unção do Coral que dá voz a um repertório poderoso registrado neste recente trabalho lançado pela Salluz Productions e assinado pelos talentosos produtores musicais William Augusto e Jeziel Assunção. O disco vem sendo muito apreciado e o show foi um retrato fiel do espírito do disco: Altos louvores ao Rei! Os cantores funcionam em conjunto como um mass-choir afinado com a mesma tradição de Richard Smallwood, Kirk Franklin, Hezekiah Walker e outros grandes ícones do Gospel, além de dar uma temperada com a ginga brasileira na sempre envolvente performance dançante do grupo. Os solistas também impressionam com vozes pra lá de precisas, ágeis e cheias de personalidade, tudo conduzido com a energia de Gustavo Mariano, regente do Coral. O pr. Ivo Mariano não perdeu a oportunidade de falar daquilo que Deus tem colocado em seu coração a respeito de Adoração, fechando o conjunto do sentimento que me envolveu ao chegar no evento, bem sintetizado no “chavão”: “We’re gonna have some Church up in here!” (Nós vamos ter uma Igreja nesse lugar!). O evento contou com a participação internacional de Aretha Scruggs da COGIC-California cantando algumas de suas canções, usando e abusando do talento que Deus a confiou. Certamente levará uma ótima impressão do Coral Resgate para a Vida, que é o Coral da COGIC3 na Zona Leste de São Paulo e não deve em nada para os corais da “matriz” em sonoridade, pegada e estilo. Com este novo trabalho o Coral Resgate para a Vida contribui com um novo fôlego para o já tão rico cenário Black do Gospel nacional.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

5 Grandes motivos para comprar CDs originais

No meio Gospel nós sempre ouvimos pregações acaloradas sobre as infâmias e pecados que se escondem atrás do ato tão corriqueiro (infelizmente) de adquirir cópias piratas de nossos artistas preferidos. Não quero entrar no mérito desta discussão mas sim expor rapidamente 5 motivos (e tenho muitos outros mais...) que sustentam meu costume de comprar material fonográfico original, esperando com isto estimular meus caros leitores a aderir a esta prática e desfrutar de seus benefícios:

1. Qualidade de áudio

Quem começou a ouvir música no formato antigo dos long-plays em vinil como eu no final da década de 80 sabe que o avanço para o formato digital dos CDs teve seu preço em certos aspectos da escuta musical. A precisão cartesiana da tecnologia digital tirou de cena alguns encantos do impacto acústico que os vinis proporcionavam quando reproduzidos em sistemas de som decentes.
O CD tira um "molhinho" acústico delicioso, mas deu também uma sonoridade bem legal às produções com maior durabilidade (apesar disso ser um tanto questionável...) e precisão.
O MP3 é um esmagamento da já mais curta gama de expressividade sonora do CD em relação ao vinil, que por sua vez é a captação mecânica do som transitando no ar transformada em relevo impresso numa superfície maleável.
Todo trabalho detalhista e artesanal de uma captação,mixagem e masterização se perde na cópia em MP3.
A qualidade das cópias piratas é extremamente inferior aos originais e os downloads são uma fonte bastante insegura! Vírus, phishing-scams e afins...

2. Qualidade do projeto gráfico

Um CD não é só a rodinha prateada que você enfia no seu aparelho de som para ouvir o barulhinho que faz!
Gosto muito de usar uma nomenclatura meio americanizada: Álbum! Álbum me dá a noção de que um CD é uma obra visual também. Tem um projeto gráfico, descreve um pouco do que passa na cabeça dos produtores do disco como identidade visual do trabalho musical e, não raro, apresentam belíssimas obras originais e independentes do disco. Exemplifico com a capa do álbum "Ainda não é o último" da Banda Resgate: além de um CD maravilhoso, a capa é um show a parte.

3. Informações sobre a produção

Quando temos o encarte de um CD, além de toda a beleza de um projeto gráfico bem realizado, temos informações muito interessantes da produção. Listas de músicos envolvidos, autores, arranjadores, mixadores, masterizadores, artistas gráficos envolvidos, editores, e afins... Até um agradecimento às vezes você poderá ler meio que ouvindo a voz do seu artista favortio e conhecendo um pouco mais de como ele pensa e como chegou até ali.

4. Financiamento da continuidade da obra de seus artistas favoritos

Quando você compra um álbum original você paga pelo trabalho de toda uma cadeia produtiva e em última instância está possibilitando que haja uma próxima produção! Só pra dar uma idéia do problema da pirataria para quem sobrevive neste ramo: Imagine que você se esforçou para entregar um ótimo trabalho, digamos que num escritório de contabilidade, e no fim do teu mês de trabalho teu patrão não te pague e diga: consegui um carinha ali do lado sem qualificação nennhuma, com 1/8 da tua experiência que fez "igualzinho" por 1/10 do preço. Chato, né?

5. A possibilidade de um autógrafo...

Afinal de contas, ainda não vi malandro ter a pachorra de pedir autógrafo em cópia pirata!

Jonas Paulo

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Entrevista: Samuel Mizrahy


O cantor Samuel Mizrahy me concedeu uma breve e divertida entrevista. Leia e conheça um pouco mais desse cantor/compositor talentoso:

Jonas Paulo: Samuel, você é autor de canções belíssimas, dono de uma voz cheia de expressividade e um grande condutor de Louvor e Adoração. A que se deve esta combinação? E você acredita haver uma “formação escolar ou técnica” que desenvolva estas características em alguém que aspire uma carreira como cantor gospel, ministro de música ou algo assim?
 Samuel Mizrahy: Já ouviu falar que a gente é aquilo que a gente come? Penso assim, sou feito daquilo do que me alimento. Desde cedo sempre fui influenciado musicalmente pelos meus irmãos mais velhos e sempre tive ótimos referenciais. Acho que a “formação escolar” é fundamental para quem quer ser alguma coisa. O grande ditado do “Diga-me com quem tu andas...” é muito verdadeiro, pois se as más companhias corrompem os bons costumes, as boas constroem pontes para as coisas boas. Quanto ser um grande condutor de Louvor e Adoração, fico feliz de poder ser isso. Sempre quis ser, sempre busquei, se está acontecendo é porque houve sementes.

JP: Como foi seu início como músico cristão?
SM: Venho de uma família de cinco irmãos, minha casa sempre teve instrumentos, lembro da minha irmã tocando piano, meus irmãos tocando violão e isso sempre me inspirou, e como nossa vida era dentro da igreja tudo aconteceu de forma natural. Um dia eu estava fazendo aulas de violão, no outro eu estava tocando minha guitarra azul de rock na reunião de adolescentes. (risos)

JP: Qual foi a primeira canção que você escreveu?
SM:A primeira foi SEU AMOR, eu até a gravei no cd do MUITOMAIS (uma banda que eu tinha em Belo Horizonte)

JP: Vou entrar em um assunto um pouco controverso: Quais os limites de envolvimento de um músico cristão com a chamada “música secular”? E na seqüência: há algum músico popular que te influencie musicalmente?
SM: Bom, eu tenho um pensamento pessoal a respeito disso, isso não é uma bandeira que carrego, mas algo que eu vivencio todos os dias. Sou do pensamento que só existem 2 tipos de música, a boa e a ruim. Ouço música secular, aprendo muito com compositores seculares, mas não faço de suas músicas minhas bíblias. O que eu não gosto mesmo é a hipocrisia besta que os artistas evangélicos incluem em seus discursos, estão todos Cold Playando, U2ando, Snow Patrolando, em suas músicas, e dizem que é pecado ouvir música secular. Acho que quando se faz uma música “gospel” sem base bíblica, ou quando se faz uma canção “evangélica” com um refrão que todos vão cantar ou visando uma venda maior de CDS é mais pecado do que ouvir uma música SECULAR.
Quanto aos que eu gosto, vou citar 2 mas poderia citar 500.
Lenine e Lulu Santos. Pelas letras do Lenine e pela musicalidade do Lulu
Vocês já ouviram o cd do Luiz Arcanjo? É uma aula de música brasileira, de composição.
Vocês precisam ouvir as composições “seculares” do Thales Roberto, uma mais linda que a outra.

JP: Como você pensa que sua profissão (Samuel Mizrahy é publicitário) influencia seu trabalho musical? Tanto artística como tecnicamente e até do ponto de vista do marketing da coisa?
SM: Nada, sou péssimo no meu marketing pessoal. Agora que eu estou tendo a ajuda do pessoal da Salluz e da Sonar (onde eu trabalho) pra fazer as minhas coisas. Se não fosse eles eu tava perdido. Eu acho que o que eu tenho em comum entre ser publicitário e músico é a criatividade, se bem que eu tenho me achado muito repetitivo.

JP: Você acha que há limites para a música cristã em termos de estilo musical? Você sente falta de mais música brasileira nas rádios evangélicas?
SM: Sinceramente, sou muito metamorfósico. Eu amo a música brasileira, acho que é uma música inteligente de se ouvir e a cada dia que passa tem algum brasileiro com uma nova idéia para torná-la cada vez mais plural (O Lenine faz muito bem isso). Agora, no que se refere às rádios evangélicas, só vão tocar o que se pagar pra tocar, afinal eles têm que sobreviver, se tiver muita música brasileira (na essência) disposta a pagar pra tocar, eles vão fazer, se não...... que venha o rock britânico (e olha que eu gosto). Não sou contra as tendências, gosto do novo. Só não gosto do goela abaixo.

JP: Seu novo disco insere um leque um pouco mais amplo de influências no seu trabalho. Como foi isso? O “brit-rock” veio pra ficar?
SM: O “brit-rock” é muito envolvente em suas cadências, ótima pra ministrar. Eu não acho que veio pra ficar, pois a música é cíclica e já já chegam novas tendências, mas se for feito com qualidade e bom gosto eu vou gostar sempre. Eu gravei algumas agora no meu cd, mas gosto sempre de por um tempero mineiro/brasuka.

JP: Como foi trabalhar com a Salluz? O quanto isto agregou às tuas possibilidades criativas?
SM: Foi um privilégio sem fim, não só trabalhar, mas caminhar com eles tem sido um tempo de grande aprendizado pra mim. Ver quem são e o que são fora da igreja me fez ter a certeza que existem homens e mulheres que fazem a obra de Deus com excelência, trabalham e vendem seus produtos “evangélicos” com honestidade e muita clareza. Nas pequenas e grandes coisas. Por exemplo, eu nunca vi ninguém fazer qualquer tipo de trabalho pra Salluz e não ser honrado financeiramente. Eles pagam todos os direitos autorais de tudo, até das versões. Isso é raro.

JP: Samuel, agradeço muito sua disposição e simpatia de sempre e gostaria de encerrar esta breve conversa com uma palavra para os muitos jovens que te admiram e sonham em cantar pra Deus com a excelência que você apresenta.
SM: Esses dias eu postei um conselho no twitter que vou dar sempre em todas as oportunidades que eu tiver.
Quanto ao sonho de ser um ministro, alguém usado por Deus, busque nEle e só nEle, pois Ele é quem capacita, instrui, adestra para Sua obra. Busque referenciais humanos sim, mas não se esqueça de imitar Jesus em suas atitudes. Mas se você quer se dar bem na sua vida financeira, faça um bom currículo e procure um emprego. Uhu!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Aos mestres, com carinho de discípulo eterno.

Meus primeiros professores foram Genival e Marlene. Ensinaram-me coisas aparentemente banais, mas que usarei pra sempre como escovar os dentes, tomar banho, comer de garfo e faca, pedir antes de pegar coisas que não são minhas e aceitar “nãos” como repsosta, prestar atenção quando alguém fala e respeitar os mais velhos, orar sem cessar e ter temor na casa de Deus. Ensinam-me muito, sempre, até hoje e até quando Deus permitir. Peço muitos e muito anos…
Depois veio o professor Lucas, meu irmão do meio. Veio pra me ensinar a dividir, brincar, driblar (isso aí não aprendi lá muito bem…), aprontar e sair ileso, entre tantas outras coisas…
As “tias” que me alfabetizaram começaram uma obra importante que é deveras desvalorizada neste país. Lembro de seus rostos, de sua doçura, mas infelizmente os nomes me fogem…
Ana Paula veio como um presente de Deus! Ensinou-me a cuidar. Tão frágil quando chegou em casa, nossa caçulinha… Aos oito anos, aprendi a carregar minha irmãzinha no colo e com seu pezinho torto, aprendi que Deus usa a tudo e a todos quando quer abençoar uma família com uma cura sobrenatural.
Norma, Vilma, Júlio e Celso; Geometria, Literatura, Geografia e Física respectivamente. Mais do que o rigor dos conteúdos ensinavam a gostar de aprender e a cruzar saberes de maneira a entender melhor o mundo ao meu redor. Que saudades das aulas de vocês, e como gostaria de ter aproveitado mais.
Júlio César me ensinou a usar melhor os acordes que aprendia nos livrinhos do Maurão. Ensinou-me que havia muita múscica além do que meu gôsto podia alcançar. Clapton, Caetano, Metheny… Muito som, muitos dedos, muitas viagens sonoras!
De toda a ULM, lembro com saudades de Regina Kinjo. Entrei na aula dela descontente com a obrigatoriedade de frequentar aulas de Canto Coral. O terceiro acorde da primeira canção que aprendi com ela muduou o curso da minha vida: virei aspirante a tenor, arranjador de acapela, cantor, músico, “madrigalista encantado”.
Logo veio Naty Ribas, minha professora em tempo integral. Ela me ensina de tudo: cuidar da casa, cuidar da imagem, cuidar da língua… Mas de tudo que aprendi com ela, o melhor foi aprender a amar plenamente.
Da UNESP lembro de Carlos Stasi. Professor que descostruiu meu castelo de cartas em 15 minutos de aula. Com ele aprendi que música está muito além da frieza inerte de marcações gráficas numa partitura e que qualquer sistema tem limites, inclusive os melhores sistemas…
Um mestre que já se foi é Ricardo Rizek; ou Rizekinho, o Grande como gosto de recordá-lo em conversas ou aulas. Enquanto em muitos lugares aprendi técnicas variadas, na sala de aula de meu mestre aprendi Arte, sua sublime força e capacidade de ser algo além do banal mesmo que o cite ou se pareça com ele. Com Rizek aprendi tanto que nem em 2 existências poderia organizar tantas anotações de aulas notívagas… Ainda visito suas aulas, seus dizeres, seus gestos e suas manias.
Muitos professores me alcançaram sem que nunca os encontrasse. Aulas em livros (Martin Buber, Platão, Guimarães Rosa,Suassuna,  Michael Ende…), aulas Poéticas (Hesíodo, Safo, Pessoa, Jorge de Lima, todos os Cordelístas do Nordeste, todos os Rappers do Mundo…) aulas em Discos (Robert Johnson, Boca Livre, Take6, Jeff Buckley…), aulas no Cinema (Stanley Kubrik, Andrei Tarkovski, David Cronemberg…), aulas em Telas (Dali, Picasso, Michelangelo, Da Vinci), aulas no Palco (Artaud, Nelson Rodrigues, Sófocles…), aulas em Sonoras (Bach, Beethoven, Bhrams…), aulas e aulas e aulas…
Tento fazer de meu professor o meu “outro”. Aquele ou aquela com quem convivo vive num mundo interno diferente do meu e certamente posso aprender a cada encontro. Não creio estar banalizando o ofício do mestre aqui, até porque “mestre” é um dos títulos que se dá aquele que é meu maior professor: Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres – um homem que ousou ensinar a todos sem distinção, sentando-se em todas as mesas que pode e deixando uma marca que chegou até nós, alunos.
Se você é professor sinta-se bem neste dia. Sem você o mundo estaria em trevas completas e qualquer força nos venceria.
Parabéns!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Samuel Mizrahy Ao Vivo - Alegria, alegria, alegria!

"Numa noite fria de inverno" - assim começa o texto de Samuel Mizrahy sobre a noite da gravação de seu Ao Vivo. Eu estava lá e pude ver uma das captações ao vivo mais alegres e calorosas de todos os tempos! Isso ficou impregnado no CD de alguma forma, e na verdade desconfio que seja porque esta é uma condição do próprio Samuel, cantor e compositor e violeiro com a marca da mineiridade mais prazeirosa do atual cenário Gospel. A alegria de Samuel se transforma em canções, em momentos de Louvor e Adoração diferenciados e banhados de uma simplicidade incrível. Quem vai a um evento com Samuel Mizrahy e espera um espetáculo de pose, trejeitos e afetações volta bastante frustrado e feliz, porque acaba participando de algo muito melhor. Vimos sim portentos e prodígios naquela noite, por exemplo a mão poderosa do Senhor protegendo um indefeso iPod pisoteado pelo cantor...
O disco traz uma coleção de composições já gravadas de Samuel Mizrahy mais algumas inéditas, mas certamente representa algumas viradas estilísticas daquele que já foi jocosamente chamado de "Jorge Versículo" pela leve semelhança de timbre e de estilo musical com um cantor da MPB. As faixas nesta onda estão ótimas! Ouça com atenção o solo de Rhodes em Nova Aliança pelos dedos do André Calore, e na mesma faixa aprecie a voz calorosa e inconfundível do Paulo Zuckini no time do vocal de apoio.
Destaco o aparentemente recém descoberto pelos evangélicos brazucas Brit-Rock. Confesso que não é uma sonoridade que me apela muito, mas seu casamento com o gôsto melódico e harmônico dos arranjos fez os pulsos de colcheias soarem muito mais saborosos neste disco. Aliás, um dos destaques do disco é a faixa bônus com produção de Thiago Pereira. Muito interessante ver um conceito por trás de um arranjo! A presença da Ordem no meio do Caos parece ser musicalmente expressa nos ritmos e texturas que o Thiago propôs na introdução.
Algo que me encanta desde seu primeiro disco é a presença da voz de Adila Mizrahy, e especialmente os duetos Samuel/Adila, pra quem não sabe ela é sua esposa e dessa vez sua presença em Faça Morada foi o que me mais me pegou pelo estômago no disco assim como sua contribuição em Nome sobre todo nome no álbum de estréia de Mizrahy! Bom ver uma nutricionista/cantora tão musical e com uma escolha de notas tão sutilmente agradável e precisa.
As canções tem uma medida muito feliz de "congregacionalidade" e personalidade. Num tempo onde os CDs que enfatizam música congregacional são quase uma única música perenemente harmonizada nas velhas e gastas cadências pouco variantes o Samuel Mizrahy Ao Vivo representa uma contribuição muito diferenciada com letras relevantes, marcantes, coesas e corretas musicadas com novidade e bom gosto - coisa que só vivência aliada a talento proporcionam.
A canção Amado é um dos novos clássicos em potencial nesta safra de canções de Adoração, só senti os níveis de volume e presença um tanto desiguais entre as vozes de Samuel e de André Valadão que faz uma participação especial na faixa. Não sei se isso aconteceu na escolha dos mics, se gravaram em estúdios muito diferentes ou algum outro fator contribuiu para a complicação na mix, mas ouvi assim... Nada disso tira a beleza da canção, sua letra tão biblicamente cativante e musicalmente um cheia de novidade! Mais guitarras ostinando colcheias Brit-Rockers. Parece que esta é a nova onda, né? Se soasse sempre como soa em Samuel Mizrahy Ao Vivo estava bom demais.

Sobre política...


*este é um texto/resposta que estou enviando como resposta a todo o e-mail sobre política que tenho recebido

Olá! Aqui é Jonas Paulo, meus amigos, colegas, conhecidos e afins...

Este é um texto que preparei caso recebesse mais algum e-mail raivoso contendo lixo sobre política partidária.

Não saberia dizer quanto tempo perdi meramente apagando os e-mails que muitos me mandaram. Alguns eu li e pude perceber a extrema desinformação política, falta de consciência histórica e falta de inteligência de muitos! Alguns chegaram ao absurdo de defender ou lembrar com saudades dos famigerados tempos de ditadura militar. Enfim, uma vergonha!

Gostaria de contribuir de alguma forma para esta discussão via e-mail, deixando claro desde início que não ouso ter uma resposta final e perfeita para muitas das questões levantadas nos e-mails que recebi.

Em primeiro lugar, indico este vídeo:


São 21 minutos de informação sólida! Nada de pregações dúbias,  inflamadas e rasas... Nele vemos a situação do nosso planeta e a notória falência do atual sistema de consumo e como as pessoas são deixadas em segundo plano em prol de esquemas que só visam lucro e mercado! Pense nisso...

Em segundo lugar, para toda a corja de supostos “homens de bem” que enviaram e-mails raivosos, indico este site:


Tenho certeza de que grande parte dos que vociferaram contra este ou aquele candidato ou partido são adeptos do “jeitinho brasileiro” e para vocês que se enquadram neste caso eu digo em alto e bom som: Vocês merecem toda a sujeira e corrupção de Brasília e eu espero que seja uma fatia bem gorda do seu bolo que escoe no ralo das “falcatruas institucionalizadas” da política brasileira! De coração desejo isto! Você merece mesmo! Repense, mude porque “quando a gente muda o Mundo muda com a gente”!

Por fim, vou me dar ao direito de dizer aqui que a minha candidata à presidência deste pais no próximo domingo prima em seu discursos pelos meus ideais de equidade, sustentabilidade e ética! Não voto em extrema direita falida, não voto em aloprado que acha que política serve pra sair de geladeira de programinha de humor, não voto em gente que se alia ao lixo partidário deste pais, não voto em ex-torturador, não voto em mafiosinho calhorda que não tem competência para manter carreira de cantorzinho de música ruim, não voto em gente que usa a palavra do Deus da minha salvação para justificar seu suposto direito ao poder secular, não voto em criminoso internacional, não voto em “mulher-fruta”, não voto em ex-atleta aventureiro, não voto em quem se julga superior por qualquer motivo que seja e não voto, definitivamente não voto em quem mente a própria formação para posar de “mestre” em isto ou aquilo...

Enfim, se quiser saber quem sobra depois de tantos “nãos”, veja em quem eu e muitos outros vão votar no dia 3 de Outubro de 2010:


Faça o que quiser, mas peço que pense!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Multiforme – Paulo César Baruk

O novo lançamento de Paulo César Baruk tem o sotaque da maturidade do cantor/produtor.
Um repertório versátil, informado das novas tendências e ao mesmo tempo com todo o peso da tradição da música Gospel na bagagem. Logo na primeira faixa temos uma pequena amostra dos dotes vocais e de arranjador de Paulo César Baruk. Sozinho, soa como um Côro Gospel de estirpe inteiro. Até a metade do disco prevalece um cantor altamente técnico e inspirado com um pé na Black music sem frescura. Nada de virtuosismo vazio…
O número de músicos envolvidos no álbum ilustra uma tendência salutar do cantor em não retringir-se a guetos, mas envolver quem quer que possa contribuir com uma pegada particular para a sonoridade desejada para cada faixa. Destaco o solo de Cacau Santos no final da faixa “Glória”. Na primeira audição tive a impressão de ouvir Carlos Santana. A primeira metade do disco tem o ápice na fixa “Somente Deus” e o timbre cavernoso dos vocais (quando Kirk Franklin ouvir dirá “Amém”…) e no artesanato belíssimo de “Reina” com a espertíssima sobreposição de todos os temas na última exposição do refrão. Acompanhando a gravação do denominado Coral de Amigos pude ver o clima de absoluta getileza e bom-humor que deve ser marca das sessões do produtor além de um detalhe um pouco mais impressionante: a criatividade espontânea do produtor vocal Paulo César Baruk, fechando os olhos e acessando de memória as linhas corais, ensinando-as e gravando take após take, extraindo uma energia fantástica de seus amigos presentes. A música de trabalho “Meu Querer” (parece que podemos esperar um vídeo-clipe desta faixa em breve!) antecipa os elementos de pop-rock da segunda metade do Multiforme. Se há alguma ressalva ser feita é a ausência de uma pegada mais rapper na faixa 2 “Filho de Deus”. Toda vez que a ouço imagino um re-mix ainda mais “Black Eyed Peas” com um rimador à lá Pregador Luo entrando e rasgando a meia!
Da oitava faixa em diante o nome Multiforme faz ainda mais sentido. A regravação da composição de Thiago Grulha “Deus Está” com muitos violões e um bandolin já dão uma pitada de brasileridade bastante pronunciada para o disco. Mesmo a pegada blueseira antes do fim da música orna e orna muito com a atuação vocal dos convidados Samuel Mizrahy, Hygor Juker e Ton Carfi. Os refrões mais empolgantes e “chicletísticos” estão nesta segunda metade do disco. “Graça” e “O Nome de Jesus” são canções daquelas que se ouve uma vez e jamais se esquece. O dueto Baruk e Leonardo Gonçalves é de tirar o fôlego de quem tenha alguma idéia da dificuldade de se executar o que esses dois podem executar vocalmente. Têm-se a impressão de estar numa sala do lado do piano executado pelo próprio Baruk na faixa “Eu Corro Para Ti”. Faixa singela e por isso mesmo marcante. “Tua Presença” tenta sanar um dos defeitos de um disco com tantos convidados: a ausência de vozes femininas. Imagino que se Baruk pudesse ter um disco com todos os convidados que gostaria, teríamos o primeiro álbum quádruplo da história do Gospel Nacional, mas a cantora Daniela Araújo, num final de faixa mostra porque é atualmente a melhor profissional do Gospel Nacional. Sua precisão, bom gosto, timbre e fraseado são impressionantes, e esperar seu disco solo é uma das minhas maiores fontes de ansiedades deste ano. Poucas vozes femininas, mas ao menos a que aparece no disco é esta, logo, ponto negativo e ponto positivo ao mesmo tempo! Nesta faixa temos também uma outra presença digna de menção: Samuel Silva ao “rodhes” (infelizmente o nome do mítico instrumento da Fender apareceu escrito assim… Como trabalho constantemente com edições de partituras, sei que estes pequenos erros se escondem até que pululam na nossa frente depois do lançamento!) Samuel Silva quando quer passa por Cézar Xamargo Mariano e acho que esse elogio basta…
Gran Finale: “Flores em Vida” é um show a parte do talentozíssimo Alexandre Malaquias com um arranjo de cordas grandioso na medida certa! Lembrei de gravações antológicas da MPB na frase que Baruk dobra com os violinos no meio da faixa. O disco fecha com a “Em Nome da Justiça” e seu efeito de tirar o fôlego. Gravação gorda e magnífica mostrando que o Gospel conheceu o mangue-beat e os novos “finos da bossa” da música brasileira. Além de pregar contra algumas alienações insistentes na cena “evangeliquete” brasileira.
Do ponto de vista técnico o álbum chega a ser impecável com relação aos timbres, arranjos e arranjadores, mixadores e a mão poderosa de Luciano Vassão na masterização. A concepção da arte do CD está muito divertida também, e as escorregadas de revisão não atrapalham tanto: o já mencionado “rodhes”, a falta do título lateral na faixa 14 (graças a Deus o crédito do compositor apareceu…), os “bem intensionados” com “s” no texto com algumas reflexões do Baruk. Texto aliás que pesa um pouco no encarte. Baruk já diz tudo o que está escrito ali com sua postura sem frescura e sem evangeliquês irritante, mas dá pra entender sua motivação: nos últimos anos, bons entendedores estão escassos…
A afirmação da bonus-track sintetiza a mensagem do disco: “O Senhor é Bom”! E Ele é mesmo: até nos brindou com o talento do Baruk! TJMM, mano Baruk!

Santifica-me: clamores, júbilos e Azusa no seu hi-fi

Em primeiro lugar uma péssima notícia: infelizmente o Coral não vem junto na compra do disco, porque o disco é bom, mas o Coral Resgate para a Vida ao vivo é incendiário!
Depois de ouví-los cantar uma belíssima versão de Total Praise no lançamento do álbum mais recente de Paulo César Baruk, um dos meus hobbies era esperar o prometido novo disco do grupo pela Salluz. A espera valeu. Na terça-feira de abertura da Expo Cristã assisti a um pocket show vertiginoso e saí correndo pra comprar meu exemplar. O disco está realmente surpreendente. Talvez inaugure uma nova fase no black-gospel nacional, com menos pose e mais atitude, além de adornos virtuosísticos melhor colocados. Menos aparências e mais essência. Mas não quero falar das pessoas, dos ministérios, das posturas e afins. Quero falar do disco.
A produção musical é assinada por Jeziel Assunção e William Augusto, que souberam equacionar um repertório pesadíssimo e arranjos de alta qualidade com a alta personalidade do Coral. Isto não é pouca coisa! São muitos talentos individuais enormes num só grupo, característica que poderia transformar o disco numa enfadonha vitrine de runs, trills e shouts. As instrumentações são de bom gosto notável e extremamente bem executadas e captadas, os teclados vintage são todos executados pelo produtor William Augusto que dá uma aula de música Gospel. Não o conheço, mas deve ter as gravações do The Comissioned e afins decoradinhas, dando um show de referências e criações. A direção vocal é impecável do ponto de vista dos solos, com um destaque para a participação da Deisy na versão da cavernosa Holy thou art, God de Richard Smallwood, passeando poderosamente sobre o arranjo, que embora respeite bastante a textura da gravação original traz uma clareza, um calor e uma autenticidade muito relevante para o cover. Vanessa Williams se orgulharia da cobertura de Deisy. Aliás, numa nota pessoal, os produtores eliminaram a resolução maior do final da canção, coisa que sempre me incomodou na versão do Smallwood com o Vision. Como é provável que ele não lerá este texto, ouso a crítica. Terminam a faixa no tom menor, soturno e pesado sem forçar a resolução e transitando para um Praise Break que nos transporta imediatamente para um culto genuinamente pentecostal.
Uma ausência no encarte é a indicação dos solistas, no entanto, já imaginei um ótima justificativa para isto: o Coral Resgate para a Vida parece não se importar muito com personalismo. Quando solam ao vivo, os cantores parecem conectados numa comunhão umbilical aos colegas. Eles se olham, se tocam, se suportam de maneira a proporcionar um espetáculo visual maior do que meramente vômitos de fraseologia vocal! Enquanto o mundo black-gospel parece colocar a habilidade melismática num pedestal absoluto, os integrantes deste Coral parecem ter entendido que o cantor deve sobretudo fazer com que a canção apareça e não somente usá-la como um holofote para seu virtuosismo.
Quanto ao repertório, queria destacar as composições de Bruna Pisani, integrante do Coral que surpreende com duas canções (inclusive a faixa título do disco) extremamente informadas e densas. Muita gente ouve música Gospel; e aqui não falo de Gospel como etiqueta de mercado para todo e qualquer disco que tenha texto religioso, mas como estilo musical e fenômeno vindo de uma experiência realmente vivida, mas poucos chegam a tocar a essência do Gospel e, aparentemente, esta moça é uma destas poucas pessoas.
A mixagem por Luciano Marciani é muito feliz e se ouve tudo na medida, e a masterização do sempre cuidadoso Luciano Vassão preserva a dinâmica envolvente o Coral, que vai de suaves calorosos a fortíssimos absurdos sem perder o timbre bonito.
Como maestro de profissão principal, não poderia deixar de comentar o regente do grupo: o também incendiário Gustavo Mariano. Mão de pulso firme e fraseado evidente, ele mistura uma “pegada Kirk Franklin” com uma coisa mais cantante à la Marvin Sapp, com um timbre claro, bonito e pegada de diretor de Mass-Choir.
Enfim, mesmo levando em conta minha tendência a sensacionalizar as coisas, recomendo o Santifica-me com toda a empolgação, mesmo! É viver um pouquinho de Azusa sem sair de casa.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um pequeno salmista andando pelo tempo

Há um cineasta russo que disse em seu livro que a música é a moldagem filosófica do tempo. No caso das canções de Thiago Grulha, dever-se-ia estender o conceito para o campo da Fé, da Teologia, da Doutrina e Vida Cristã. Meus passos no tempo parece ser o retrato do que vive, pensa e faz um jovem salmista da nossa geração, anotando tudo em nossa memória através do seu canto. É com os olhos no retrovisor das próprias vivências que Thiago evoca as imagens e experiências que canta no disco com uma voz singela e precisa, sem muitos rodeios. A principal marca do disco é a presença de canções, na mais bela acepção da palavra, aquela que nem meu sempre útil Caldas Aulete traz no verbete:
canção (can.ção) sf. 1 Qualquer composição musical (popular ou erudita) para ser cantada. 2 Poesia lírica.
O problema do verbete é a palavra “qualquer”. Correto do ponto de vista da língua, mas não do ponto de vista de uma minha Filosofia da Arte, a partir da qual defendo que casamentos especiais entre poesia e sons merecem ser chamados de canções. Grulha é cancionista! Tem aquelas fagulhas criativas que depois de lapidadas viram poemas, e muita vez, se encaixam perfeitamente numa idéia sonora; ou ainda, desafiando o próprio compositor, já nascem as duas coisas, texto e música juntas, presenteadas por Deus num ato de plena graça.
Musicalmente o CD tem uma textura pra lá de agradável, com pelo menos 2 singles que estourariam fácil em circuito comercial. Às vezes tenho a impressão de que está chegando a hora de artistas cristãos como Grulha, Hélvio Sodré, Banda Resgate entre outros experimentar lançar seus materiais em circuitos maiores do que apenas as rádios evangélicas, mas isto não é assunto para agora… Meus passos no tempo remete a um Brit-Rock corajoso e Pop, com uma coisa de Coldplay aveludado por um leve sotaque Folk pela presença de fortes violões de aço como o de Cacau Santos na lindíssima canção Não é o fim, que bem me lembro ter história, e uma história que ainda vai deixar o Thiago Grulha com a voz embargada por muitas vezes. As escolhas de timbres e arranjos são muito corajosas e acredito que poucos produtores além de Paulo César Baruk ousariam investir em tamanha economia como na da que ouvimos na faixa de abertura e sua repetição como bonus-track.
Fiquei mais uma vez impressionado com a voz poderosa, plástica e expressiva de Leila Francielli num dueto lindíssimo com Thiago. Coisa linda de composição, de arranjo, interpretação e tudo mais! Até a mix me impressionou pelo bom gosto no preenchimento dos espaços e o belo “palco sonoro” montado pelas mãos de Eduardo Garcia. O equilíbrio da masterização contribui para a escuta dos detalhes, dos efeitos. Tudo na medida para a construção de um belo álbum! Os samples da faixa Tempo para amar são outra boa surpresa. Além de bem sequenciados, ornam o belo arranjo de Thiago Cutrim.
Outro destaque é a interpretação de Grulha para a já clássica Choro acompanhado num arranjo que transborda bom gosto e sensibilidade do Leandro Rodrigues.
Um espetáculo de simplicidade e captação de uma idéia, de um conceito é o projeto gráfico do CD. Fez com que mais uma vez eu sentisse saudades do formato dos LPs. Imagino a capa e as fotos de Lucas Motta em dimensões mais avantajadas… Seria algo pra se pensar paras as próximas empreitadas da Salluz Productions: uma edição limitada para os que ainda sabem e gostam de colocar a agulha no vinil!
Em seu terceiro álbum, Thiago Grulha parece ter atingido uma constância impressionante na concepção de canções que falam a uma geração que parece estar voltando a se sentir tocada pelo uso das palavras.