terça-feira, 30 de novembro de 2010

Entrevista: Mauricio Soares

Entrevista com Maurício Soares, diretor executivo da Sony Music Brasil para o mercado Gospel.


1. Mauricio, fale um pouco sobre sua trajetória no mercado fonográfico até sua chegada na Sony Music neste ano.

Comecei a trabalhar no mercado religioso há 21 anos junto à área editorial onde atuei no marketing da Vinde Comunicações, editora que publicava os livros do Rev. Caio Fábio.  Ali foi uma grande escola e já muito jovem tive oportunidade de lidar com grandes líderes, eventos e projetos. Depois fui convidado a trabalhar numa editora secular e nesta experiência desenvolvi mais o meu lado de relacionamento e comercial. Na seqüência recebi um novo convite da MK Publicitá para iniciar um projeto editorial e a área de marketing da empresa. A partir daí não saí mais do mercado fonográfico.

Depois de um bom tempo nesta empresa, optei por ter uma experiência de trabalhar e morar em São Paulo. Fiquei pouco mais de 4 anos morando e aprendendo muito naquela cidade e ali fui contratado para reerguer a Line Records que passava por uma crise bem grande. Na Line Records tive uma enorme experiência de gestão comercial e de marketing. Nesta empresa fiquei quase 6 anos e cheguei ao posto semelhante à vice-presidência de marketing, comercial e artístico. Depois de um bom tempo e o sucesso na empreitada assumi o desafio de trabalhar no ministério Toque no Altar.

O que no primeiro momento seria um tempo de tranqüilidade numa estrutura menor, tornou-se um dos meus maiores desafios, pois vivi todo o processo de cisão do ministério em apenas 10 dias de trabalho. Esta experiência foi a mais marcante para mim em termos profissionais e espirituais. Vivi e entendi intensamente o que é verdadeiramente depender do cuidado de Deus. Mesmo com todos os problemas, conseguimos refazer o ministério e o primeiro álbum já na nova versão vendeu mais de 200 mil cópias, um verdadeiro milagre!

Minha trajetória prossegue com a passagem pela Graça Music. Esta empresa não figurava entre as principais do mercado gospel nacional. Seu foco era tão somente atender às demandas da própria igreja. O cast artístico era bem reduzido e nada representativo no mercado. Em apenas 20 meses de gestão conseguimos conquistar o respeito do público e do mercado e ainda, aumentar o faturamento em 124%.

Todas estas experiências de conquistas, sucesso e de enfrentamento de grandes desafios me possibilitaram uma visibilidade no mercado e isto, sem dúvida, colaboraram para que a Sony Music me fizesse o convite para mais um desafio, talvez um dos maiores de minha carreira, ou seja, implantar um projeto de música gospel na maior gravadora do país. E pelos primeiros resultados, vejo que Deus continua com sua mão sobre a  minha vida me abençoando bastante!


2. Qual a importância de uma gravadora com o peso da Sony Music abrir uma divisão específica para o Mercado Gospel Nacional? O que isto pode significar para a cena?

O que é sensível neste caso é a maior profissionalização do mercado gospel. Também entendemos que a visibilidade do mercado e dos artistas nas mídias e no mercado fonográfico secular aumentaram significativamente. A Sony Music é a maior gravadora do país com mais de 40% de market share. Nos EUA, a Sony Music é a maior gravadora de música gospel através dos labels Provident, Verity, Integrity Music, entre outros.

Uma das maiores novidades do ingresso da Sony Music no mercado gospel é a abertura do mercado digital de forma integral. Até pouco tempo atrás, mercado digital para as gravadoras era apenas a venda de ringtones ou coisas do gênero. Com a entrada da Sony Music o mercado digital significa ações de marketing com todas as operadoras de telefonia móvel, YouTube, MySpace, grandes projetos especiais, só para citar alguns.

3. Observando o cast da Sony Music no filão, percebo uma variedade bastante estimulante em termos de estilo. Isso foi intencional? Aconteceu de maneira natural ou foi uma tônica no processo dos convites aos contratados?

Se você me perguntasse qual seria o cast antes de começar o projeto na Sony Music, certamente eu teria dito a você nomes que hoje não estão na gravadora e muitos outros que vieram para nosso cast não estavam cogitados inicialmente. A montagem de um cast de qualidade é uma partida de xadrez com muita estratégia e paciência. Cada contratação foi feita sob muita análise e critérios. Eu apenas priorizei trazer nomes relevantes, artistas que têm um nome reconhecido no cenário gospel nacional como Cassiane, Renascer Praise, Resgate, Damares, entre outros.

Também estabelecemos que priorizaríamos a contratação de artistas do segmento pentecostal no primeiro momento e foi isso o que fizemos. Só que também buscamos artistas mais jovens e mesmo a contratação de um nome mais conceitual como Leonardo Gonçalves. Diria que hoje o cast da Sony Music está 80% definido e perto do ideal.

4. Imagino que a assessoria de imprensa seja uma das principais preocupações de uma gravadora na tarefa de solidificar a carreira de um artista. Como é este processo num filão onde parece se valorizar certa despreocupação com imagem em prol de quesitos supostamente ministeriais?

Temos incentivado os artistas a contarem com melhor estrutura de apoio. Esta questão está longe de ser a ideal para mim, mesmo em se tratando de artistas Sony Music. As dicas que escrevo em meu blog pessoal deveriam também ser lidas por nossos artistas, mas percebo que mesmo eles não atendem todas as minhas expectativas do artista e assessoria ideais. No caso da assessoria de imprensa no meio gospel há uma defasagem absurda entre o que é realizado e o que é o ideal. Geralmente os textos são muito mal escritos e há um amadorismo bem considerável. Como um todo, em se tratando de assessoria de imprensa e a própria mídia gospel, acho que ainda estamos muito aquém do mínimo de qualidade. Precisamos melhorar bastante esta situação!

5. Ainda neste tema: O artista Gospel ainda tem receio de se enxergar como artista?

O maior problema desse nosso meio é o discurso. O artista quer ser tratado como pastor ou como alguém num nível espiritual diferenciado. Só que grande parte deles tem atitudes de artista, com um ego elevadíssimo! Digo sempre que os 3 degraus que separam o backstage para o palco ou púlpito fazem uma transformação sobrenatural. Segundos antes de assumir o palco, o artista não atende ninguém no camarim, geralmente está com um semblante distante e a tensão impera o ambiente. Depois de subir ao palco, o artista vira um anjo com palavras de fé, um discurso biblicamente correto, enfim, há uma transformação e tanto! Isso não falo porque ouvi dizer, vivenciei e vivencio isso constantemente! Acho que esta questão precisa ser melhor trabalhada pelos próprios artistas e mesmo pelas lideranças e o público.

6. Percebo por seus comentários no belíssimo site Observatório Cristão e em outras oportunidades que você valoriza a fase de escolha de repertório nas produções. Vou fazer aqui uma pergunta meio arriscada: O que faz de uma canção um single de sucesso?

O refrão é algo importantíssimo para um single. O arranjo também tem uma força imensa. Na verdade, o single é aquela canção que se destaca no repertório e que vai se destacar também no playlist das rádios. Entre tantas canções executadas numa FM, o single tem que ter força para se destacar entre as outras músicas. Neste quesito, qualidade é fundamental!

7. Falando sobre o site Observatório Cristão. Você se considera um formador de opinião ou um crítico? E, na sequência, qual é o papel de sites e blogs como este?

Nem uma coisa, nem outra. Apenas escrevo no blog como um grande exercício de pensamento de dia-a-dia. Para mim é um prazer enorme escrever. Sou formado em Publicidade, mas também em Jornalismo e assim garanto que meus textos serão publicados, afinal também sou o editor-chefe do blog então acabo sendo mais condescendente com meus posts. Sei que pela minha posição atual, acabo sendo um formador de opinião, mas acho que nem sempre sigo a cartilha do “politicamente” correto, então acabo me tornando meio crítico também. Confesso que tenho posições bem determinadas sobre assuntos que gostaria de expor com maior veemência, mas minha posição profissional não me permite esta postura mais acirrada. Quem sabe se quando eu me aposentar poderei exercer com mais tranqüilidade esse lado crítico?

8. Quais são os projetos vindouros da Sony? Podemos esperar alguma ênfase na contratação de novos talentos?

Não deveremos ter muito mais contratações em 2011. Creio que com mais 4 ou 5 contratações fecharemos nosso ciclo de novidades. Sobre novos talentos, acabamos de contratar a Brenda, vencedora do Jovens Talentos do Raul Gil. Também entendo que o Marcus Salles pode ser considerado um novo talento, pois iniciou agora sua carreira solo. Também iremos lançar a Nádia Santolli que é um jovem talento, portanto, temos muito trabalho pela frente.

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