segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Arte - uma resposta/comentário a um blog amigo.

em ocasião do post mais recente do Yuri Steinhoff.


Não entendemos nem "arte" como Arte ainda... Distinguí-la de entretenimento é luxo ao qual não se pode dar! Em ambientes de suposta arte sacra moderna então, só tenho dúvidas. Onde há arte? Nos panfletos ideológicos da esquerda militante forte nas Igrejas com apelo progressista? No afetismo emocionalóide dos carismáticos? No rigor formal e conteudístico dos tradicionalismos em todas as suas aparecências? Nem lá nem cá, né? Arte, obra de arte são fenômenos raros hoje em dia... Quase que forma e conteúdo não se tocam mais! Arte como τέχνη como queriam gregos não se justifica mais? Ars mais romana beirando um clipe orgiástico de novas Ladys? Simbolismos também não respondem aos anseios atuais? Que sobra? A procura! A procura sempre motivou qualquer Arte relevante. A Arte, o artista sabe que não encontrou, sabe que precisa do encontro, sabe que falta algo, por tanto uma arte que se dá a panfletagem é morta porque quer lançar ao outro ou a outro lugar algo que não é possibilidade, mas certeza. A Arte que só emociona é manca porque volta o homem pra dentro do homem e mata encontros. Só faz reverberar dentro do homem aquilo do que ele já estava cheio antes de encontrar a obra. A Arte formal expressa modelos muito bem, toca no que consideramos belo, conjectura sobre gôstos mil, mas também gera pouco porque nela cabe dizer "isto é certo" e/ou "isto é errado".
A Arte, então morreu? Será que um dia viveu? 
"Arte" é só uma palavra... Às vezes, alguém consegue lançar algo dentro dela, seja num som, num gesto, numa imagem, num conjunto de tipos dispostos numa tela branca ou pedaço de papel, mas a "Arte" continua sendo só uma palavra!
Não subestime o poder de uma palavra...


Dizer errado é nova arte! Ars nova, protestante e questionável. É incluir o símbolo onde não há nenhum.
Ars - erat, aret tera.






Post Scriptum: Não tenho certeza de nada que escrevi neste post. Ainda estou a procura...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Mas e música do Mundo, pode?"

De novo esse assunto, né? A gente roda, roda, roda e a questão continua a mesma: pode o crente, o músico crente, o "gospel fan" ouvir "música secular" (nomezinho que só perde em deselegância pro costumeiro "música gospel") "do Mundo"? Quando essa questão apareceu pra mim no meu curto e atrapalhado flerte com o fundamentalismo fanático confesso que não entendia bem de qual distinção se tratava. Naqueles tempos de adolescente eu tendia a poucas diferenciações em música. Tinha música que eu gostava e música que eu não gostava e ponto! Não era nem uma questão de música boa o ruim ainda. A questão era gosto. Gostava de Take 6 e detestava Bach! Achava que Bach era música de elevador... Gostava de Stockhausen e detestava Beatles (essa nem Freud explica...). Enfim, como um pequeno pernóstico em formação que eu era, gostava demais assim como detestava demais. Coisa de quem teima em se colocar ainda que não tivesse sido chamado! Com esta postura ganhei alguma coisa, mas perdi muito mais. Deixei de ouvir Bach desde mais cedo, deixei de ouvir Ópera desde mais cedo, deixei de ouvir Beatles desde mais cedo e meu mundo sonoro cresceu defasado e comprometido demais.
Depois de já bem formado como um jovem pernóstico a questão parecia superada. Como viver sem ouvir Stevie Wonder? Dogmática nenhuma me convenceria de que isso faz sentido! E eu nem sabia ainda que Stevie era COGIC... Como eu poderia abrir mão de Chico Buarque de Hollanda se não tinha nada igual no mundo cristão pra ouvir e deslumbrar? Enfim, a coisa de filtrar o que poderia fruir em arte na malha fina do que a Igreja permitia era estranho, como ainda é.
Um tempo depois me colocaram a questão do Cinema. "Como que você vai poder assistir a um filme degenerado como este novo do Kubrick aí?!" - quando esta frase se fez soar aos meus ouvidos resolvi deixar minha fruição artísitca na dimensão da alcova. Via e ficava quietinho, ouvia e ficava quietinho, cantava/tocava e ficava quietinho, ia no teatro e ficava quietinho. Só amigo íntimo sabia do meu fraco por David Lynch, Artaud, Chico, Miles, Elis e afins, muito mais "afinados" dos que as modas Gospel que iam e vinham e nas quais nunca encontrei identificação. Lá pelos idos de sei lá que ano, a onda black na cena Gospel me pegou. Templo Soul, Robson Nascimento, Baruk, FLG ( e eu nem sabia ainda que já era lá pra terceira "onda black" no Gospel brazuka...), mas sempre a escuta da maioria salvando estas citadas acima e pouquíssimas outras exceções, tudo soava cópia da cópia do rascunho do abjeto... Prefiria voltar pra Motown, pra produções do Q, pro Babyface, pro Randy Jackson. Quanto a uma música brasileira (seja lá o que isso possa significar!) o buraco sempre foi largo e profundo: só lá um ou outro ocasionalmente acertando alguma! Saudades do Sérgio Pimenta - mpbístico sem ter que ser poser e vociferar contra tudo e todos pra depois desdizer o dito como se fora "coincidência"... Lamentável!
Enfim, enquanto a MCC continuar escassa de qualidade e arte na lida da canção vai sobrar muito tempo pra ouvir MPB, Jazz, R&B, Rock, Música Erudita e afins...
"Pra não dizer que eu não falei das flores", tem muita gente aparecendo com ganas de escrever uma nova história! Já falei aqui do sensacional Multiforme do Baruk que quase levou o Grammy do ano passado, O Palavrantiga e seu trabalho inusitado, o ótimo Ainda não é o último... da Banda Resgate, o muito feliz disco solo de Luiz Arcanjo, tem esse menino de Brasília chamado Hélvio Sodré que é fantástico, o Grulha entre outros e espero que cada vez mais muitos outros!
Pra constar, desconfio que todos estes que citei ouvem muita "música secular" e talvez em doses cavalares até pra não se deixarem poluir do mais do mesmo que impera por aí.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

3 Clipes

Pra começo de conversa: eu sou fascinado por video clipes! Lembro de que voltei correndo do colégio pra ver a estréia da MTV (pra, com o passar dos anos, perceber que não foi tão legal assim...). Meu pai tinha umas coisas em VHS que fizeram minha cabeça de criança: Talking Heads, um clipe de Sincronicity do The Police que sempre adorei, Shout do Tears for Fears e por aí vai. Com o passar do tempo comecei a me dar conta de que não haviam clipes de música Cristã. Na verdade, até existiam, mas pela bondosa mão do Senhor, fui poupado de vê-los quando criança e adolescente. Ao invés deles, via Titãs, Paralamas, Nirvana e tudo mais. Muito diretor de Cinema começou filmando clipe de banda de Rock! Daí, com o passar do tempo tive curiosidade de assistir clipes da "música Gospel" nacional. Ano passado meu asco de Clipe Gospel começou a diminuir um pouco conforme algumas produções foram se destacando pela qualidade e por um crescente abandono da estética brega que antes reinava. Quero destacar 3 clipes em especial que me provocaram sorrisos:
Sabe aquele tipo de clipe intimista, que só tem o cantor em paisagens pseudo-deslumbrantes? Pois é, pode ser um tiro no pé mas aqui texto e imagem conseguiram redimir uma fórmula aparentemente gasta ressaltando a simplicidade bonita que o Thiago conseguiu imprimir nesta canção.
Esse disco como um todo foi um presente de 2010! Não esperava um clipe assim tão divertido, confesso... No reino dos detalhes, a Banda Resgate está furando uma barreira dentro da cena Gospel do Brasil: estão podendo ser roqueiros beirando a meia idade divertindo-se plenamente fazendo canções. Por que a música Cristã tem de ser o tempo todo séria, profunda, existencial e em suma carrancuda? Esta canção nos faz lembrar das iluminuras medievais que os monges tradutores faziam nas beiradas dos livros, cheios de bom-humor e argúcia!
Esse é da Gringolândia. Da ótima banda The Arrows e traz uma foto-montagem marcando o texto de uma fortíssima apolgética da ética e moral cristã sem muita frescura e bastante criatividade, colocando o tal texto na boca de Satan, o pai de todas as mentiras. Os discursos moralistas e fundamentalistas são, não raro, marcados por péssimo gosto estético e merecedores de nota zero em poética. Esta é uma honrosa exceção.

O "Clipe Gospel" ainda está longe alcançar status artístico de ponta, mas algum progresso em aspectos técnicos são inegáveis. As velhas fórmulas "cantor olhando pro nada", "banda inteira tocando guitarra desplugada em galpão" ou filmagens de shows são ainda gastas a todo o tempo, mas acredito que novos profissionais que estão furando esta bolha de mercado começam a trazer coisas novas pra linguagem, dignificando ainda mais as produções da MCC. Pra finalizar, quero deixar aqui um clipe, um quarto clipe da música "secular" (aguarde um post sobre essa coisa de música secular que está no forno!) pra se ter uma idéia do que é possível fazer com simplicidade e beleza:
Paz a tod@s.