sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Mas e música do Mundo, pode?"

De novo esse assunto, né? A gente roda, roda, roda e a questão continua a mesma: pode o crente, o músico crente, o "gospel fan" ouvir "música secular" (nomezinho que só perde em deselegância pro costumeiro "música gospel") "do Mundo"? Quando essa questão apareceu pra mim no meu curto e atrapalhado flerte com o fundamentalismo fanático confesso que não entendia bem de qual distinção se tratava. Naqueles tempos de adolescente eu tendia a poucas diferenciações em música. Tinha música que eu gostava e música que eu não gostava e ponto! Não era nem uma questão de música boa o ruim ainda. A questão era gosto. Gostava de Take 6 e detestava Bach! Achava que Bach era música de elevador... Gostava de Stockhausen e detestava Beatles (essa nem Freud explica...). Enfim, como um pequeno pernóstico em formação que eu era, gostava demais assim como detestava demais. Coisa de quem teima em se colocar ainda que não tivesse sido chamado! Com esta postura ganhei alguma coisa, mas perdi muito mais. Deixei de ouvir Bach desde mais cedo, deixei de ouvir Ópera desde mais cedo, deixei de ouvir Beatles desde mais cedo e meu mundo sonoro cresceu defasado e comprometido demais.
Depois de já bem formado como um jovem pernóstico a questão parecia superada. Como viver sem ouvir Stevie Wonder? Dogmática nenhuma me convenceria de que isso faz sentido! E eu nem sabia ainda que Stevie era COGIC... Como eu poderia abrir mão de Chico Buarque de Hollanda se não tinha nada igual no mundo cristão pra ouvir e deslumbrar? Enfim, a coisa de filtrar o que poderia fruir em arte na malha fina do que a Igreja permitia era estranho, como ainda é.
Um tempo depois me colocaram a questão do Cinema. "Como que você vai poder assistir a um filme degenerado como este novo do Kubrick aí?!" - quando esta frase se fez soar aos meus ouvidos resolvi deixar minha fruição artísitca na dimensão da alcova. Via e ficava quietinho, ouvia e ficava quietinho, cantava/tocava e ficava quietinho, ia no teatro e ficava quietinho. Só amigo íntimo sabia do meu fraco por David Lynch, Artaud, Chico, Miles, Elis e afins, muito mais "afinados" dos que as modas Gospel que iam e vinham e nas quais nunca encontrei identificação. Lá pelos idos de sei lá que ano, a onda black na cena Gospel me pegou. Templo Soul, Robson Nascimento, Baruk, FLG ( e eu nem sabia ainda que já era lá pra terceira "onda black" no Gospel brazuka...), mas sempre a escuta da maioria salvando estas citadas acima e pouquíssimas outras exceções, tudo soava cópia da cópia do rascunho do abjeto... Prefiria voltar pra Motown, pra produções do Q, pro Babyface, pro Randy Jackson. Quanto a uma música brasileira (seja lá o que isso possa significar!) o buraco sempre foi largo e profundo: só lá um ou outro ocasionalmente acertando alguma! Saudades do Sérgio Pimenta - mpbístico sem ter que ser poser e vociferar contra tudo e todos pra depois desdizer o dito como se fora "coincidência"... Lamentável!
Enfim, enquanto a MCC continuar escassa de qualidade e arte na lida da canção vai sobrar muito tempo pra ouvir MPB, Jazz, R&B, Rock, Música Erudita e afins...
"Pra não dizer que eu não falei das flores", tem muita gente aparecendo com ganas de escrever uma nova história! Já falei aqui do sensacional Multiforme do Baruk que quase levou o Grammy do ano passado, O Palavrantiga e seu trabalho inusitado, o ótimo Ainda não é o último... da Banda Resgate, o muito feliz disco solo de Luiz Arcanjo, tem esse menino de Brasília chamado Hélvio Sodré que é fantástico, o Grulha entre outros e espero que cada vez mais muitos outros!
Pra constar, desconfio que todos estes que citei ouvem muita "música secular" e talvez em doses cavalares até pra não se deixarem poluir do mais do mesmo que impera por aí.

4 comentários:

  1. Como sempre, um belo texto de uma das maiores cabeças da internet BR. #EsseÉVaso #Manto #UIF #ISO

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  2. olha.. eu tenho tanto nojo de algumas musicas "gospel" como tenho nojo de outras "seculares". é um assunto que eu vivo me questionando. tipo... o ateu do lenine acho que tava mais cheio de Deus quando escreveu a contemplativa "Paciência" do que aquele ministerio famoso quando escreveram as suas letras imperativas cheias de "restitui, me dá, olha aqui, faz isso, lembra"
    o que eu nao gosto é de peneirar cocô. Pq por mais q melodia compense, alguns cantores/bandas seculares ou não, é só uma ou duas musicas que prestam. pode ser a melodia mais linda, o solo de guitarra mais incrivel q eu ja ouvi, simplesmente nao consigo cantar um negocio q eu nao vivo, e acho legal nao cantarolar inverdades, pq aí vc se previne delas virarem verdades pra vc mais cedo ou mais tarde.
    por aí :)

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  3. Primeiramente, belo post, parceiro!

    "Segundamente", meu ponto de vista é que como cristãos podemos analizar músicas de duas formas: seguindo diversas linhas teológicas de raciocínio que nem sempre nos levam a uma conclusão, ou apenas dizer se é uma música boa ou ruim. Já cada "papagaiada" sobre cristão ouvir músicas "que não fazem apologia cristã" que prefiro nem dar crédito, mas tbm outros argumentos que me interessaram e me ajudaram a formar uma opinião.

    Eu, como músico e tbm ministro de música em minha igreja tomei algo pra minha vida que vou compartilhar aqui e espero que ajude alguns a repensar algumas coisas.
    Como músico, analizo sim se a música presta e me agrada ou ñ. E como ministro, TAMBÉM! Ñ é pq exerço a função de músico na casa de Deus que ñ posso ouvir referências boas que raramente se ouve, e se ouvirá, na música sacra moderna (posso chamar assim? rsrs.). E isso pq? Por uma questão de cultura. Raramente, músico crente quer estudar e se esmerar pra fazer o melhor TECNICAMENTE tbm. "Deixa Deus fazer..." , e "Ah, é pro 'Senhor'..." são algumas de tantas outras frases que já estão incutidas na cultura do povo, infelizmente!

    Aí eu pergunto: Sou tão anormal em querer pro meu Deus algo que me custe dedicação, que tenha arte e que tenha júbilo? Pois é, Davi pensava assim, foi músico/adorador exemplar, e eu penso assim tbm. Porém, com a música "gospel" de hj dá pra ter boas referências? Raramente, né?! E as que têm são poucas, ou vêm do exterior... essas que tbm buscam referências de música "sem apologia cristã"... enfim, e o ciclo nunca acaba.
    É o que eu penso...

    @eumesmovinicius ;)

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  4. sempre muito coerente... parabéns sempre!

    bom, qdo tivermos musica da lua, ou de marte, quem sabe deixo de ouvir musica do mundo... mas ai será musica de outro mundo tb... xiii... to confuso! rs

    e falando em coerencia, dauma lida nos textos em http://ogalileo.com.br/cristianismo/colunista/yuri-steinhoff e comenta la! pode "metê o pau" e "manda bala"... é ora isso mesmo... me de esse privilégio!!

    um grande abraço!! e nos vemos

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