quarta-feira, 9 de março de 2011

Rede Social - A saga do Bloco do "Eu" Sozinho

David Fincher me ganhou em 1995 com o brilhante "Seven" e desde então acompanho o trabalho do cineasta com muito menos paixão do que se vê transbordando em seus filmes. Quando li sobre o tema de The Social Network, confesso que torci o nariz. Não tinha lido o livro de Ben Mezrich, mas não achei que a história de Mark Zuckerberg daria um argumento digno ao diretor responsável por "Fight Club". Simplesmente adoro me arrepender assim tão vertiginosamente! Os três prêmios arrematados na 83ª edição do Oscar não são assim tão despropositados, afinal o estilo video-clíptico imposto por Danny Boyle e devidamente acatado por Jon Harris em "127 hours" é questão de gosto adquirido, enquanto que "Black Swan" não ficaria com muito mais do que o evidente prêmio a sua melhor atriz por ser Darren um que não agrada tanto com seu jeito de fazer Cinema (relevante, novo, arteiro e sufocante...). O roteiro é ágil, emoldura a história com bastante talento dando um belo tom a película e, mesmo sendo um daqueles que concordam com o Glauber no sentido de que o Cinema não serve pra contar histórias a narrativa do filme me pegou de surpresa como algo forte. A música original que rendeu aos Rent Reznor e Atticus Ross a estatueta é um ponto alto! Como compositor de formação e interessado em film-scoring que sou há tanto tempo, fico feliz em ver qualquer coisa que não "bata continência" aos clichês Holywoodianos ser aclamada. A trilha é boa, grandiloquente, e afinada com o feeling high-tech do filme sem deixar de ser informada, erudita e bem estruturada, ou seja, nada de drum-bass pelo drum-bass: é tudo milimétrico e bem mixado.
O filme é um drama pesadamente fundamentado na solidão perene de Zuckerberg. Uma mente perigosamente brilhante que sabe ler nas entrelinhas do Mundo a inovação que ele deseja, anseia e não consegue nem ao menos imaginar. Vemos o drama de um jovem que com talento e visão ímpar conecta meio bilhão de seres humanos de todo o globo, mas soçobra sozinho num eterno F5. Tentativa patética de se ligar a ao menos um indivíduo com o qual queira se relacionar de fato. Vemos também a inveja pintada em cores fortes, amenizada em tons pastéis e contornada em tipos humanos limítrofes: os gêmeos bon-vivants, o imigrante carreirista, o sul-americano oprimido e passado pra trás, mulheres coisificadas, burocratas e mais burocratas, um fetichista do mundo high-tech rancoroso e vingativo interpretado brilhantemente pelo multi-talentoso Justin Timberlake, e no meio de tudo isso o "gênio"-inventor-fundador Mark Zuckerberg com sua bandeira e ninguém para ajudá-lo a carregá-la, provando que a tecnologia tanto os aproxima enquanto nos afasta.
A história também ensina. Fala de internet, de dinheiro, de vendas e de como criar uma imagem fiel a uma idéia. A relutância em se render a propaganda (como as muitas que você pode ver neste site que vos fala, mostrando que nele não há nada de novo...) é tão radical que consegue manter a pureza daquele azul por muito tempo, até que o site se transforme no preço que seu dono tenha em mente arrebatando poderes e capitais transformando Mark no mais jovem bilionário do mundo. Quem quiser tomar notas desta aula, fique a vontade...

2 comentários:

  1. De que falam as histórias? Falam de si mesmas. Por que? Pela razão de que um mundo não se abre a não ser por elas. Mundo em que podemos nos encontrar é mundo narrado. Sequer sobre si falam as histórias. Ao narrarem, as histórias não referem nem se referem; ao narrarem, as histórias são. As histórias são o narrar onde dá-se mundo, que não há meio de dar-se doutra forma. A história é caminho, sempre verdadeira — não importa o que se encontre pelo caminho — e por isso por ela vivemos. Caminho por ser ao narrar, sempre é passagem para todo mundo possível. A narrativa nos viaja; báquica, nos transporta. Não há mensageiro que não seja anjo da morte: ao abrir os mundos, revela os espaços entre eles. Inautêntico é a compulsão espiritual de conectá-los a revelia, completar os espaços do abismo, ocupar os vazios do transitivo. O caminho não se repleta de curso. Todos os rios desaguam no mar, mas o mar nunca transborda. Do vazio se tece o curso, vestido de espaço. Em seu discurso, brotam-se os mundos, feito carne de suas palavras. Encarnados, versamos naquilo que chamamos vida de cada um. Encarregados de nosso nome, desapareceremos tão inexperadamente quanto surgimos. Em alemão, discurso se diz 'rede'. Pela rede tentamos dominar o que nos captura pelas amarras do próprio verbo que vazamos. O que nos escapa somos nós, pescados pela história, seja na carne audiovisual, seja na carne virtual, sempre carne. Encarnar é versar não importa do que se versa — que seja belo, tomara um tempo para o adeus, e ir-se embora.

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  2. Muito bom esse filme, mostra o contra censo de alguem que cria uma rede social, mas que no fundo é um homem sozinho.

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