sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Daniela Araújo - O memorável debut

A espera foi longa. As notícias da produção nos vinham através do Twitter, do Facebook e do blog da cantora que, com a maior paciência do mundo, lidou com a cobrança natural dos que acompanham sua carreia.
 O disco da Daniela é um desafio muito grande para qualquer um que queira abordá-lo de maneira crítica. Lembrando que nosso fundamento crítico não se baseia no senso comum que toma o "criticar" como algo que diminui a obra somente apontando defeitos, falhas; nossa crítica pode ser resumida na pequena máxima "Discursar sobre a Obra sob Critérios". 
Muito bem, quais são estes critérios?
Se um critério puder ser qualidade técnico-musical, então o disco de Daniela Araújo passa com louvor! O primor da produção em seus aspectos musicais é assombroso para os padrões das produções cristãs brasileiras. O cuidado com os arranjos, com as captações (especialmente a captação vocal!), as execuções dos muitos músicos evolvidos (incluindo uma sessão de cordas captada em Praga), o cuidado com uma mixagem de tirar o fôlego do já celebrado neste blog Fernando Menezes, a bela finalização do Master Final e a arte do Lucas Motta compõe um disco realmente notável e com um sabor anacrônico. Sim: anacrônico! Não "sinto este sabor" num disco há muitos anos. Não é coisa deste tempo nem coisa do passado, mas coisa que parece uma fresta na sonhada eternidade.
Outro critério de alta relevância (pelo menos para mim quando ouço um disco) é: Se eu tirar TUDO, essas canções "param em pé"? Também neste quesito Daniela passa com louvor! Canções testadas, submetidas ao público só com voz e violão, canções trabalhadas com zelo de ourives a fim de que tudo, bem medido e bem pesado, pudesse não ser uma anuência à nova moda das "musiquinhas cabeça" carregadas de críticas e formulações teológicas complexas de teólogos da moda. As canções de Daniela (e a cantautora só não assina duas faixas do disco...) são pra hoje e sempre! Com fortes cores da teologia de sua Igreja, as canções logram profundidade e leveza. Quem faz canção sabe da dificuldade de atingir o x da questão nesta equação.
O disco é o debut em carreira solo de uma das maiores cantoras de sua geração não só no âmbito da MCC. Daniela poderia perfeitamente caminhar lado a lado de nossas maiores cantoras da MPB sem deixar a peteca cair! Ela é indefectível ao vivo mas não nos ofereceu um disco chato e enfadonho de virtuose. Foi além e buscou a interpretação ao invés da verborragia fraseológica dos vocalistas que se deixam influenciar demais pela nossa Black Music de segunda mão (que, como já comentei antes, imperou por aqui até pouco tempo atrás com mais nota do que música).
Não ousaria fazer um comentário track-by-track deste Disco. 5 textos "morreram" enquanto militava neste formato e decidi apenas sublinhar algumas delas e seus encantos.
Daniela em estúdio.
O disco abre com milímetro, a pequena fenda por onde a cantora adentra na Eternidade. Quem esteve no lançamento viu um vídeo incrível que emoldurou lindamente a canção na abertura daquele show.
dimensão da luz é um presente! Uma interpretação visceral da cantora que mostra que a questão não é quantas notas, mas quais notas. Virtuosismo REAL e surpreendente da moça.
interlúdio - jugo suave e jugo suave merecem um destaque para o arranjador "prateleira de cima" que é o Lua Lafaiete. Não se ouve mais tão facilmente o que soa nestas duas faixas. É uma grandiloquência bem colocada no Interlúdio e uma singeleza difícil de atingir nas cordas da canção. A letra é um alento, um afago poético sem solução fácil, mas apontando para uma imersão total em Deus. Coisa linda de ouvir.
Meu último comentário a uma faixa do disco tem que ser sobre volta. Existem alguns filmes e algumas Sinfonias que me provocam reações físicas e emocionais intensas demais e preciso me conter para não deixar evidente o meu êxtase. A afirmação é exagerada, mas é só assim que consigo expressar aquele grito de "Volta!" que a Dani dá depois do Coro masculino na secção intermediária da canção.

Em suma, este disco é um problema sério na vida da Dani: O que lançar depois disso?

2 comentários:

  1. Definição perfeita pro disco. É o melhor gospel que eu já ouvi em todos os meus 16 anos de vida. Daniela é um presente de Deus pra todos nós.

    E, com certeza, 'Volta' é a melhor do cd. Marca uma melodia de inteira intimidade e comunhão, além do pedido incessante a volta do nosso Deus. O quarteto nos passa uma idéia sobrenatural, jamais tratada em qualquer outro disco. Algo que parece, propositalmente, nos fazer ouvir coisas que nos inspiram a segunda vinda de Cristo. O grito me parecia um desabafo da cantora, e eu achei lindo, maravilhoso, surpreendente.

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  2. Concordo com tudo que está escrito aí.
    Mas, é difícil escolher a que mais gosto.
    Eu gosto de todas. Cada uma me toca de alguma maneira. Me leva mais perto de Deus.
    Belo post! E uma excelente conclusão, rs..
    "Em suma, este disco é um problema sério na vida da Dani: O que lançar depois disso?"
    O que lançar? Eis a questão!

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