segunda-feira, 26 de março de 2012

Paulo César Baruk CD & DVD #Eletro3 - Falando entre vós com salmos, hinos e hashtags espirituais

Sim, eu demorei pra escrever sobre este lançamento...
Muito, aliás!
O meu CD eu mesmo "montei" lá pela Salluz quando chegaram as caixas com tudo desmontado lá pra turma "fazer o trabalho braçal" e mandar pra Conde de Sarzedas e afins em tempo record! E foi tempo record MESMO! A gravação foi no emblemático 11/11/11, data que protagonizou uma inteligente estratégia de divulgação na Web bolada pelo time da Salluz e o "o pacotão #Eletro3" estava pronto dia 13/12, nem bem um mês depois da captação.
Ouvi o disco (não comprei o DVD logo no dia...) com aquele sabor de novidade, uma vez que no dia da gravação lá estava eu de voluntário no evento. Quando ouvi o resultado final fiquei muito surpreso com alguns detalhes. Por exemplo, depois de muito tempo não me senti "enganado" com um produto denominado "ao vivo". O disco é "ao vivo", gente! Deve ter ali umas trilhas vindo na orelha da galera? Sim, deve! Uns pads, uns órgãos e até umas cues de outras partes do arranjo total? SIM, pode ter, MAS, não está TUDO re-gravado depois (ou mesmo já levado pronto no dia da gravação) criando aquele clima "fake" de "ao vivo ma non troppo" que a genta se acostumou como sendo o novo padrão do mercado. Num parêntesis rápido, lembro de meu pai chegando em casa com shows incríveis de bandas como Rush, Led Zepelin e Steely Dan nos quais, apesar de todo o cuidado técnico e nível na execução musical, você podia perceber que era "ao vivo"! Era o som do dia, o lead do dia, a "vibe" do dia... O #Eletro3 resgatou um pouco disso no Gospel brasileiro. Infelizmente, a gente se acostumou com um padrão de show "ao vivo" que soa enlatado e sem nenhuma vida! Estranho, uma vez que quando no contexto da Música Cristã, as canções estão inseridas num contexto específico onde a experiência da Adoração e do Louvor são tão proeminentes... Mas digressões a parte, o disco do Baruk é ao vivo, com pouquíssimos ajustes de pós-produção, principalmente na sua voz! A gente ouve o Baruk que vai nas nossas Igrejas neste CD e DVD. O Baruk que dá aquela afastadinha no mic de vez em quando, criando um "lance" que lhe é tão próprio, tão característico. Dá até pra perceber que o Baruk está com a voz cansada. Nada que comprometa a qualidade do disco, mas dá pra perceber que o cantor anda se gastando na obra.
Algumas novidades sobre a produção são, por exemplo, a produção musical que desta vez é assinada pelo próprio artista e pelo Leandro Rodrigues, pianista da banda Salluz há tempos e parceiro do Baruk em diversas empreitadas musicais. Dá pra ver o "toque" do produtor que soube repaginar a sonoridade geral da banda, dos arranjos e até refletindo na interpretação do artista. A banda teve uma "baixa médica" na semana da gravação: o baterista Júnior Sanchez que teve uma inoportuna apendicite na véspera do 11/11/11. Pra substituí-lo às pressas a produção contou com o talento incrível de Cleverson Silva. Outro ajuste da banda à nova sonoridade é a economia nos vocais. Baruk escala bem seus cantores até por ser ele mesmo um exímio cantor que além de cantar, dirige, arranja e "pensa" muito bem para vozes. Para o 3º e último "Louvor Eletro-Acústico" ele escalou ninguém menos do que Jéssica Augusto, conhecida por seu trabalho no Coral Resgate e uma das solistas mais incríveis desta nova geração de cantores. Junto com Jéssica, o próprio Leandro e o multi-instrumentista William Augusto apoiam e engrossam os vocais. Musicalmente, tudo flui, tudo funciona, e o CD fecha com grandeza a série.
Quanto ao DVD, precisamos sublinhar os méritos do Hugo Pessoa que deu uma contribuição sem tamanho no visual do show. Tudo muito bonito na hora e no resultado final do DVD também. Grandioso! Destaque para a canção "Flores em Vida" que só cresce com o efeito visual da luz, da tomada geral e das flores sendo levantadas pelo público. É visível a evolução neste quesito quando olhamos as três produções que foram os "Louvor Eletro-Acústico" de Paulo César Baruk.
Alguns clássicos do repertório moderno são ouvidos na produção: "Oferta Agradável a Ti" do pastor Edson Feitosa numa versão exutíssima com o violão do Eduardo Victorino e a voz do Baruk cantando e sublinhando cada palavra desta rendição cantada que é o texto da canção. "Baião" do saudoso Janires Magalhães mostra o bom humor do cantor que repete a canção do seu começo pra arrumar um acorde que quase não saiu na hora. O clássicos do próprio Baruk estão todos nos CDs e DVDs da série também, colocando-o em lugar de destaque entre os autores modernos da Música Cristã, e nesta produção poderíamos destacar várias! "Jardim da Inocência" e "O Meu Querer" estão no set e esta última pode estar no set de qualquer momento de louvor em qualquer Igreja do Brasil: precisamos cantar mais letras como esta! O CD também corrige o único defeito do #Multiforme: a ausência de um rapper na dançante "Filho de Deus". Lito Atalaia quebra tudo na faixa! O repertório do DVD difere em muito pouco ao do CD, incluindo o "Somente Deus" (com direito a solo do Melk Villar!) e "Reina" no final com direito a múltiplas participações especiais de artistas que estavam na casa no dia da gravação, selando o evento com um clima agradável de comunhão que é a marca principal da Salluz: amigos fazendo música juntos para o Senhor Deus!

P.S.: Poupar e comprar num futuro próximo TODAS as guitarras que o senhor Alexandre Mariano usa nesses DVDs pra pendurar pela casa e tocar de vez em quando! Já pensou? Nuóh...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Marcela Taís - Cabelo Solto

Já tem um tempão que o Soundcloud da Marcela Taís está salvo nos meus favoritos do navegador. Gosto muito de ouvir suas canções leves e alegres. Daí, outro dia ela foi simpática e generosa o bastante pra me pedir que lhe enviasse meu endereço. Dias depois chegou aqui o seu CD "Cabelo Solto". Fiquei contente com a atenção e mais ainda em poder ouvir o disco. Muito feliz! Muito crente por aí fala de uma alegria forçada, que não vive a julgar pelo amarrado da cara e que nas canções fica parecendo haver uma obrigação idiota de ser feliz, dar risada o tempo todo sem que nenhum motivo digno de um sorriso seja mencionado. Não é o caso da música da Marcela! Ela dá motivos pra que o sorriso brote sem impôr isso nas suas letras. Nada de "vira pra pessoa que tá do seu lado e dê um sorriso dizendo a ama em Cristo!". É música que nos traz à memória o que nos pode trazer esperança como a leveza das crianças, a beleza dos jardins, desejos de paz, fé nos milagres e coisas assim... Tudo muito singelo e calorosamente cantado! Aliás, a voz da Marcela é também uma alegria. Leve, cheia de vida e sem o peso do exagero e menos ainda a cansada auto-imposição de que sofrem muitos cantores cristãos de soarem iguaizinhos aos grandes virtuoses do segmento. Ela tem a inteligência de permitir que sua assinatura vocal apareça sempre e a gente agradece porque é uma voz, um fraseado e até uma respiração agradável de ouvir.
O disco é cheio de canções lindas, mas gostaria de destacar algumas:
"Declaro Paz" - Gosto do arranjo, do contrabaixo e do refrão desta canção por demais! Além do que, chega de "corinho de Guerra", né? Nosso mundo precisa de Paz! De mais gente que viva pela Paz e que creia na possibilidade da Paz. Enfim...
"És o meu Dono" - De novo, tudo certo! Uma canção de entrega que escapa do clichê e nos brinda com esse sabor folk que eu tanto gosto. Este ambiente sonoro quase que continua em "Não tenho o dom", onde vemos como que a canção parte de uma idéia onde música e um sentido poético se encontram. Outra coisa que continua são os muitos violões! Já disse aqui mil vezes que violões poucas vezes são demais...
Belo disco da Marcela! Você pode comprar pelo site da cantora no link http://www.marcelatais.com.br/ e conferir pessoalmente o trabalho da cantora brasiliense.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Juntando o começo e o final.

Nesta semana fui surpreendido com um convite de Leonardo Gonçalves para uma audição de seu mais novo CD "princípio e fim" em sua casa. A Master era recém-chegada de Londres. Um privilégio inaudito! Éramos conhecidos via Internet e alguns amigos em comum, no entanto desde nossas primeiras aproximações eu pude perceber afinidades de interesses comuns tanto em âmbito musical como em outros campos de nossas complexas existências humanas. Em seguida em um post de sua autoria no Observatório Cristão, surpreendeu-me uma honrosa citação a minha pessoa como "meu amigo Jonas Paulo". É bom ter amigos desta estirpe! Leonardo é um homem de cultura milenar e isto é cada vez mais raro em nosso tempo que privilegia o específico, a especialização sem lastro com a tradição, com a cultura. Esta profundidade cultural do cantor não o tira a característica de ser um especialista no canto e também em música de modo geral. Nossa conversa começou transitando por alguns achados do indie, um belíssimo disco da Barbra Streisand e daí passamos a audição em seu muito equilibrado sistema de som, que  Leonardo a todo momento ter o defeito de uma leve (porém, realmente perceptível) sobra de graves. O disco de Leonardo tem um conceito! Não quero entregar muito neste texto uma vez que pretendo preparar algo mais substancioso quando tiver meu CD físico em mãos, mas adianto que o diálogo do disco é entre o temporal e o atemporal, o Reino de Deus e sua manifestação imanente na Igreja, a escatologia e o engajamento com o Mundo e a vida da lida. Alguém pode dizer que este comentário seja excessivo, no entanto, assim como o próprio artista parece estar fazendo, farei ouvidos de mercador àqueles que pretendem tirar do artista o direito de criar sua arte à partir de seus próprios fundamentos conceituais; como comentarista deste disco, pretendo eu também entrar no diálogo que a obra mesmo inicia, permitindo-me assim, analiticamente derivar do disco mesmo aquilo que ele não parece dizer na escuta superficial e vencendo até mesmo aquela pergunta absolutamente idiota que muitos insitem em fazer-me, muita vez: Mas será que ele pensou nisso quando estava compondo? - esta pergunta tanto irrita quanto diminui a grandeza do que é a Arte em suas diversas manifestações. Se alguém julga-se capaz de entender, ou melhor, compreender o que Shakespeare quis dizer com sua obra é diminuir a polissemia que dela se depreende, por exemplo!
Mas deixemos de lado estas digressões e vamos a algumas considerações sobre a escuta de cabo a rabo que fizemos naquela noite:
1. Leonardo nos oferece um disco Pop! Isto mesmo: do alto da erudição do artista emerge uma obra que dialoga tanto sonora quanto tematicamente com a cultura e com os anseios do povo. Poderíamos aqui até mesmo colocar, do Povo de Deus. Temos no disco letras que falam ao Povo de Deus, encorajando-o, instigando-o a viver na Tensão Criativa que há entre a Igreja espiritual e sua encarnação na terra.
2. Leonardo nos oferece outra voz! é o mesmo virtuoso de sempre, no entanto, ainda mais amplificadamente do que já se fez ouvir em "Viver e Cantar", Leonardo busca sempre, e agora ainda mais, as melhores escolhas musicais, melódicas! É um disco de conteúdo musical complexo e este conteúdo é cantado com uma voz minuciosamente medida a cada nota, a cada colocação, à partir de um novo ajuste vocal como denomina sua preparadora vocal, Blacy Gulfier.
3. Leonardo nos oferece um disco com uma Forma clara! O disco é bem articulado assim como o artista o é. Leonardo tem um domínio claro de sua obra nos seus mais diversos aspectos. Isso salta aos ouvidos conforme se escuta o disco todo, e mesmo quando ele nos faz dançar num funk que conta com ninguém menos do que Marvin Mcquity nas baquetas, o ouvinte não sai da dimensão de um diálogo constante com a proposta dialética original e germinal do álbum. O compromisso entre forma & conteúdo é levado a cabo em toda a extensão do álbum e nisso não se negociou de modo a satisfazer necessidades de mercado, de facilidade de compreensão e afins. É um disco para a Eternidade!
4. Leonardo nos oferece uma sonoridade minuciosa. Produção Musica, Arranjos, Interpretações, Arte Gráfica, Mix e Master apontam um verdadeiro exercício de excelência. Eu poderia comentar mais demoradamente sobre cada um desses aspectos, mas deixarei isto para um post mais aprofundado quando finalmente tiver em minhas mãos este Oroboros Fonográfico...