sexta-feira, 16 de março de 2012

Juntando o começo e o final.

Nesta semana fui surpreendido com um convite de Leonardo Gonçalves para uma audição de seu mais novo CD "princípio e fim" em sua casa. A Master era recém-chegada de Londres. Um privilégio inaudito! Éramos conhecidos via Internet e alguns amigos em comum, no entanto desde nossas primeiras aproximações eu pude perceber afinidades de interesses comuns tanto em âmbito musical como em outros campos de nossas complexas existências humanas. Em seguida em um post de sua autoria no Observatório Cristão, surpreendeu-me uma honrosa citação a minha pessoa como "meu amigo Jonas Paulo". É bom ter amigos desta estirpe! Leonardo é um homem de cultura milenar e isto é cada vez mais raro em nosso tempo que privilegia o específico, a especialização sem lastro com a tradição, com a cultura. Esta profundidade cultural do cantor não o tira a característica de ser um especialista no canto e também em música de modo geral. Nossa conversa começou transitando por alguns achados do indie, um belíssimo disco da Barbra Streisand e daí passamos a audição em seu muito equilibrado sistema de som, que  Leonardo a todo momento ter o defeito de uma leve (porém, realmente perceptível) sobra de graves. O disco de Leonardo tem um conceito! Não quero entregar muito neste texto uma vez que pretendo preparar algo mais substancioso quando tiver meu CD físico em mãos, mas adianto que o diálogo do disco é entre o temporal e o atemporal, o Reino de Deus e sua manifestação imanente na Igreja, a escatologia e o engajamento com o Mundo e a vida da lida. Alguém pode dizer que este comentário seja excessivo, no entanto, assim como o próprio artista parece estar fazendo, farei ouvidos de mercador àqueles que pretendem tirar do artista o direito de criar sua arte à partir de seus próprios fundamentos conceituais; como comentarista deste disco, pretendo eu também entrar no diálogo que a obra mesmo inicia, permitindo-me assim, analiticamente derivar do disco mesmo aquilo que ele não parece dizer na escuta superficial e vencendo até mesmo aquela pergunta absolutamente idiota que muitos insitem em fazer-me, muita vez: Mas será que ele pensou nisso quando estava compondo? - esta pergunta tanto irrita quanto diminui a grandeza do que é a Arte em suas diversas manifestações. Se alguém julga-se capaz de entender, ou melhor, compreender o que Shakespeare quis dizer com sua obra é diminuir a polissemia que dela se depreende, por exemplo!
Mas deixemos de lado estas digressões e vamos a algumas considerações sobre a escuta de cabo a rabo que fizemos naquela noite:
1. Leonardo nos oferece um disco Pop! Isto mesmo: do alto da erudição do artista emerge uma obra que dialoga tanto sonora quanto tematicamente com a cultura e com os anseios do povo. Poderíamos aqui até mesmo colocar, do Povo de Deus. Temos no disco letras que falam ao Povo de Deus, encorajando-o, instigando-o a viver na Tensão Criativa que há entre a Igreja espiritual e sua encarnação na terra.
2. Leonardo nos oferece outra voz! é o mesmo virtuoso de sempre, no entanto, ainda mais amplificadamente do que já se fez ouvir em "Viver e Cantar", Leonardo busca sempre, e agora ainda mais, as melhores escolhas musicais, melódicas! É um disco de conteúdo musical complexo e este conteúdo é cantado com uma voz minuciosamente medida a cada nota, a cada colocação, à partir de um novo ajuste vocal como denomina sua preparadora vocal, Blacy Gulfier.
3. Leonardo nos oferece um disco com uma Forma clara! O disco é bem articulado assim como o artista o é. Leonardo tem um domínio claro de sua obra nos seus mais diversos aspectos. Isso salta aos ouvidos conforme se escuta o disco todo, e mesmo quando ele nos faz dançar num funk que conta com ninguém menos do que Marvin Mcquity nas baquetas, o ouvinte não sai da dimensão de um diálogo constante com a proposta dialética original e germinal do álbum. O compromisso entre forma & conteúdo é levado a cabo em toda a extensão do álbum e nisso não se negociou de modo a satisfazer necessidades de mercado, de facilidade de compreensão e afins. É um disco para a Eternidade!
4. Leonardo nos oferece uma sonoridade minuciosa. Produção Musica, Arranjos, Interpretações, Arte Gráfica, Mix e Master apontam um verdadeiro exercício de excelência. Eu poderia comentar mais demoradamente sobre cada um desses aspectos, mas deixarei isto para um post mais aprofundado quando finalmente tiver em minhas mãos este Oroboros Fonográfico...

3 comentários:

  1. Faço das tuas palavras, as minhas!

    ResponderExcluir
  2. Eu disse que vc ia ficar pirado quando ouvisse o timbre do Léo e a concepção desse disco como um todo.
    O Léo é um artista como poucos, ainda mais no nosso mercado brasileiro. O "fazer com arte e com júbilo" que Davi disse em um de seus salmos transborda na vida dele. Como fico feliz em ver que ainda existem profissionais como o Léo que procuram fazer o melhor que podem de verdade, e não apenas de palavras. São poucos, mas ainda existem.

    Esse padrão "Leonardo Gonçalves" de qualidade não vai cair nunca, pode ter certeza. Aguardemos pois a tão esperada cópia física desse primoroso trabalho, e em seguida o teu post.

    Te adimiro, bro! =)

    ResponderExcluir
  3. Eu disse "adimiro"? Nossa... #KiBurro hahahahaha

    ResponderExcluir